sábado, 25 de dezembro de 2010

Porque me olhas assim

diz-me agora o teu nome
se já dissemos que sim
pelo olhar que demora
porque me olhas assim
porque me rondas assim
toda a luz da avenida
se desdobra em paixão
magias de druida
p’lo teu toque de mão
soam ventos amenos
p’los mares morenos
do meu coração
espelhando as vitrinas
da cidade sem fim
tu surgiste divina
porque me abeiras assim
porque me tocas assim
e trocámos pendentes
velhas palavras tontas
com sotaque diferentes
nossa prosa está pronta
dobrando esquinas e gretas
p’lo caminho das letras
que tudo o resto não conta
e lá fomos audazes
por passeios tardios
vadiando o asfalto
cruzando outras pontes
de mares que são rios
e num bar fora de horas
se eu chorar perdoa
ó meu bem é que eu canto
por dentro sonhando
que estou em Lisboa

dizes-me então que sou teu
que tu és toda p’ra mim
que me pões no apogeu
porque me abraças assim
porque me beijas assim
por esta noite adiante
se tu me pedes enfim
num céu de anúncios brilhantes
vamos casar em Berlim
à luz vã dos faróis
são de seda os lençóis
porque me amas assim


FAUSTO BORDALO DIAS
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Feliz Natal!

Venda de Natal / mostra de trabalhos com materiais recicláveis

do Centro Cultural e de Solidariedade Social, Associação de Desenvolvimento Social e Colégio Novos Rumos,

Freguesia de Guifões - Matosinhos

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sobre mãos entrelaçadas

Mãos que colam no momento exacto de descolar
Mãos que sangram no momento exacto de suar
Mãos que partem no momento exacto de ficar
Mãos que pecam no momento exacto de pecar, de ficar, de sangrar, de colar e descolar, logo de seguida… Entrelaçadas.
As rugas, os calos, as histórias… As mãos de histórias.
De mãos dadas sempre. De mãos dadas sem estar. De mãos dadas com as histórias. De mãos dadas com A história
As mãos que se cruzam sobre o peito e as mãos que se encontram sobre as costas e as mãos que se perdem sem corpo
Mãos a preto e branco. A dança das mãos.
Sobre a simplicidade de duas mãos entrelaçadas. Sem estar. Só para acompanhar movimentos de mãos que não tocam nunca, por tocarem sempre.
As cores das mãos. As cores entrelaçadas… Como as mãos a preto e branco que descolam no exacto momento de colar e sangram no momento de dançar.
Mãos
Entrelaçadas


Muito simples, bastante rugoso e até pobre... Só mesmo para dar as boas-vindas a Dezembro, esquecer o frio das mãos e partilhar o intérprete que aquece a noite
...
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domingo, 24 de outubro de 2010

TIC TAC

As senhoras da limpeza que ouvem, num rádio de pilhas, fado vadio. Muito rouco… Muito da alma.
O abraço de duas amigas que se reencontram… Felizes… Expectantes no que a noite terá para lhes oferecer apesar de fria.
Os queques com recheio de mousse mais caros do que o suposto… Mais aconchegantes do que o esperado.
Um sotaque espanhol, não vizinho, certamente de longe, certamente por ser quente, por ser, certamente, mais saudoso… Chile? México? Argentina? Cuba? E as moedas a cair a pedir mais trocos. Palavras quentes / sorriso longo / saudades apertadas
Uma bebé a dar os primeiros passos. Uma mãe sozinha embevecida. Comoção? Solidão? Uma bebé feliz. Passos infantis inseguros. Mãos maternais seguras. Amor!
O casal de namorados que se despede…
Cadeiras de intervalo e intervalos de mensagens trocadas.
Auscultadores de música íntima(os) alheios aos toques de telemóvel longos, persistentes, atrevidos.
Durante passeios lentos na espera. Diante de corridas ofegantes no atraso.
Um velho inclina muito os olhos para espreitar os títulos do jornal já tardio, dentro do quiosque fechado demasiado cedo.
Sono nos olhos e nos lábios de quem fica a dar bilhetes a quem parte. Passageiros nocturnos… Repetirão a passagem?
O último cigarro (depois de muitos: longa espera/ crescente ansiedade) antes de entrar.
Cabeças tombadas sobre malas em repouso. Merecido! Corpos depositados sobre mochilas por desgaste. Conseguido!
((Ontem falamos de livros lidos várias vezes (hoje outra vez – acrescento agora) Falamos de absorver e sentir passagens de forma diferente a cada nova, repetida, leitura))
“Não parece que está rindo? Ria pela boca, e, o que era ainda mais inexplicável, ria pelos olhos pardos também”
Olhos outra vez… Lábios mais uma vez… Os meus olhos também! Os meus lábios sobretudo!
E tu que esperas…
Tic, Tac Tic, Tac
Hoje esperam por mim ()
00h33
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

(ainda) incompleto


“Embalo” foi o nome dado à música. “Embalo” é o nome dado ao acto de “embalar”. Embalar-me-á este estado de alma, este estado de madrugada, este estado de ser e não ser ao mesmo tempo. Embalar-me-á? Podia muito bem começar este “embalo” com uma canção de embalo. Esteve em estado de “embalo” durante semanas o acto em si. E o mote, de embalo, atreveu-se agora a tomar vida. Com A “Canção de Embalar”.
Dizem que “não há festa como esta”. Dizem apaixonadamente. Diziam-me que me apaixonaria também. Disseram-me apaixonados. E demorou. E cumpriu-se. E o acto em si, a reflexão demora, mas cumpre-se. Devagarinho!
“Descoberta” foi o estado de alma transportado para o recinto (grande demais. exageradamente grande) “Liberdade” foi o estado de madrugada recolhido. E ter de regressar à realidade? E ter de voltar a suportar o “peso” da reflexão vagarosa. Contraditório porque não existe, à partida, peso no embalo.
E descobriu-se o sr. Zé que esteve preso quatro anos por fazer um jornal clandestino. E bandeiras com listas (algumas negras) que não escondem o sotaque galego. E descobriu-se a força das mensagens e a força, também é verdade, dos carimbos e dos rótulos. Tantos, a maioria talvez, rótulos orais. Formas simples, à primeira vista, de chamar e cumprimentar. Formas pesadas e complexas, se pensadas, reflectidas. E descobriu-se um livro que falava de sede e de água a jorrar da boca. E tantos discos antigos, colecções, horas que foram pequenas, segundos que pareceram eternidades. O sr. Zé fez da vida uma batalha. Uma batalha ao sabor dos caracteres que ia colocando na sua máquina, mãos cheias de tinta, óculos embaciados de emoção nas linhas que contava, folhas de papel… Folhas de “embalo”. E descobriu-se que há lugar para o folclore e para o jazz e lugar para molhar os pés em dia de muito, muito, muito calor. Às tantas, descobriu-se um jacto de ar fresco novo. Diferente. Descobriu-se depois do sr. Zé e depois da interiorização dos rótulos e depois do livro sobre a sede. Antes dos apontamentos e durante a interiorização das mensagens.
Embalou a primeira madrugada. Tudo a perder? Tudo a ganhar? Tudo a descobrir? Liberdade afinal? Embalou a segunda… Essa mais galega. Perdeu-se muito, mas descobriu-se tanto, sobretudo nas mãos cheias de tinta de um sr. de 70 anos que fazia um jornal, outrora clandestino, com a calma sábia de quem tem convicção da batalha e dá o peito à luta. O embalo do regresso… Dar também o peito à luta. Mas foi de “Liberdade” e não de “Descoberta” que se desenhou o “embalo”, num estado de alma de ser e ser tão pouco ao mesmo tempo, do regresso. Depois daqueles segundos que pareceram a eternidade toda e antes do jacto de ar fresco. Novo. Pesado. E a sede? E o nome que se deu à música? Tinta a mais nas mãos...
Dorme meu menino a estrela d'alva / Já a procurei e não a vi / Se ela não vier de madrugada / Outra que eu souber será p'ra ti / Outra que eu souber na noite escura / Sobre o teu sorriso de encantar / Ouvirás cantando nas alturas / Trovas e cantigas de embalar / Trovas e cantigas muito belas / Afina a garganta meu cantor / Quando a luz se apaga nas janelas / Perde a estrela d'alva o seu fulgor / Perde a estrela d'alva pequenina / Se outra não vier para a render / Dorme qu'inda a noite é uma menina /
Deixa-a vir também adormecer
Zeca Afonso
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Café (verdadeiro) da minha rua

“Existia há muito mais de trinta anos… Ainda o Aires dava filmes nas paroquias…”. Para quem não sabe (eu não sabia) “dar filmes” assemelha-se a “projectar”. “Dar filmes nas paroquias” era uma actividade que, nos anos 70 (penso eu… se calhar antes), era muito comum e dava para ganhar uns trocos à parte do emprego diário.
Bem, tudo isto a propósito da notícia que me despertou no fim-de-semana passado e por causa da qual este fim-de-semana dei por mim a fazer a pergunta. “E agora? Tomo café onde?”.

(Falta cheirinho a café nesta "reflexão"... Falta o entusiasmo de querer muito projectar um sentimento. Exige-se sentido prático!)
“Por motivos pessoais, este estabelecimento encontra-se fechado”. O café da minha rua, da minha infância, dos meus fás de cores diferentes a saber a corante e a fazer ranger os dentes, o café dos cafés no sentido literal da palavra porque o café sabia mesmo a café, fechou.
Não vendia jornais, nem tinha guloseimas muito elaboradas, mas tinha uma camisola do Pedro Espinha autografada na parede que ostentava um orgulho que até os mais novos, os filhos dos de sempre e netos dos daquele tempo, percebiam sem nunca terem imaginado que pelo Vitória passou um Pedro Espinha que, só por acaso, frequentava o café da minha rua.
Tinha mesas de bilhar que muito provavelmente viram começar muitos namoros e a rapaziada toda à porta, sentada no asfalto, a fumar cigarros avulso e a comprar Super Bock a meias. E a “menina do colégio” passava e comentava-se que “ela não era de dar treta” ou “que tinha o nariz muito empinado”.

Teve um espanhol que embirrava com os clientes que pediam a colher para mexer o café e não usavam açúcar. O pai da Isabel das explicações de francês e marido da Laurinda que organizava o carro do cortejo da Senhora da Luz.
O café da minha rua, onde todos os primos iam buscar gelados fiado porque “alguém da família há-de vir cá e acertar contas”… Onde ia comprar maços de tabaco para o meu tio, quase escondida, qual cúmplice de travessura de homem já grande…
“Oh Jonny… Hoje são dois… É ou não é? Afinal de contas quando saíres daqui vais tomar café a qualquer lado com teus amigos?” – onde conquistei idade para tomar café, e que café, com o meu pai, sob o olhar atento do meu avô que tomava um carioca de café “compridinho”.
Os mesmos treinadores de bancada de sempre. A “esplanada” improvisada para ver o Sr. do Beco lançar foguetes pela vitória do Vitória (passo redundância).

Tinha uma tômbola com bolinhas coloridas que podiam ser sinónimo de uma caixinha de drajeias ou de um chocolate tamanho familiar.
O café da minha rua… O bom café da minha rua… O S. Miguel. Fechou.
(Não há coerência no uso de pontos entre verbos e nomes próprios que deviam estar ligados… É a tal dificuldade em verbalizar. Casos. Consumados.)

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Here

So,
So you think you can tell
Heaven
from Hell,
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?
Did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
Did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?
How I wish, how I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here
...
pink floyd
...

one life

Is it getting better?
Or do you feel the same?
Will it make it easier on you now?
You got someone to blame
You say one love, one life
It's one need in the night
One love, we get to share it
Leaves you, darling, if you don't care for it.
Did I disappoint you?
Or leave a bad taste in your mouth?
You act like you never had love
And you want me to go without
Well, it's too late, tonight,
To drag the past out into the light
We're one, but we're not the same
We get to carry each other, carry each other
One
Have you come here for forgiveness?
Have you come to raise the dead?
Have you come here to play Jesus
to the lepers in your head?
Did I ask too much, more than a lot?
You gave me nothing, now it's all I got
We're one, but we're not the same.
Well, we hurt each other, then we do it again.
You say:
Love is a temple, love a higher law
Love is a temple, love the higher law
You ask me to enter, but then you make me crawl
And I can't keep holding on to what you got
When all you got is hurt.
One love, one blood
One life you got to do what you should.
One life with each other: sisters, brothers.
One life, but we're not the same.
We get to carry each other, carry each other.
One love!
One!
,,,
U2
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terça-feira, 20 de julho de 2010

"Senhor director, venho apresentar a minha demissão"

Todos pensámos fazê-lo, poucos arriscaram. Despedir-se sem novo emprego garantido envolve cada vez mais riscos. Mas pode ser uma oportunidade de mudar para melhor

"Estava numa reunião e comecei a fazer desenhos. Um colega anunciou que em Setembro ia trabalhar para as vindimas e eu só imaginava a sorte dele. Comecei a pensar que gostava de escrever e que devia sair da empresa. Talvez em Setembro, pensei. Olhei para o relógio. Estava um calor de morte naquela sala. E se fosse hoje? E se fosse agora? Saí, vim para a rua, tirei a gravata, mesmo à filme. Nunca mais voltei." O guionista João Quadros recorda aquele dia de há 16 anos como "o mais feliz da sua vida". Aos 30, era director de recursos humanos, ganhava "optimamente", mas não era feliz. A decisão foi tomada a quente e valeu a perplexidade de colegas e família: "Pensaram que estava maluco."Largar de forma voluntária um emprego fixo a troco de uma posição incerta no mercado de trabalho pode parecer insensato, mas também pode ser proveitoso. "É a forma errada de pensar mas a certa para vencer", defendeu um dos mais respeitados criativos da publicidade, Paul Arden, no livro "Whatever You Think, Think The Opposite". "Se fores bom, e estiveres no emprego certo, a tua carta de demissão não vai ser aceite. Se aceitarem a tua demissão, estavas no emprego errado e é melhor continuares à procura."
O preço da liberdadeA decisão envolve riscos proporcionais aos compromissos financeiros. Na altura, João Quadros não tinha filhos e era solteiro. Em Setembro foi para as vindimas com o amigo. No mês seguinte, depois de participar num curso de escrita criativa, já recebia tanto como no emprego anterior, com a diferença substancial de que fazia o que sempre quis. Escreveu para Herman José (lembra-se do "Eu é que sou o presidente da junta?"), Maria Rueff e Bruno Nogueira. Hoje é um dos guionistas do programa "Lado B". Não tinha contactos, nem formação superior na área, mas tinha o mais importante: um objectivo. Filipe Fidanza, director-geral da Work Shop - Centro de Orientação de Carreira, confirma-o: "A mudança deverá transmitir um rumo; não deve existir sem explicação fundamentada." Não é preciso sentir-se infeliz para decidir despedir-se. "A mudança é benéfica quando a actual posição já não constitui um desafio", adianta Fidanza. Talvez tenha sido por isso que Daniel Deusdado abandonou a revista sobre empreendedorismo que ajudara a criar, a "Ideias e Negócios", que até incluía a rubrica "Despeça-se já!". Em 2001 embarcou com a mulher num projecto próprio de produção de conteúdos para média, a Farol de Ideias. "Na primeira noite não dormimos, a pensar no que tínhamos feito. O primeiro ano foi muito difícil, tal como é para todas as empresas, dizem os estudos." Se está a ficar entusiasmado, Filipe Fidanza alerta que o mercado de trabalho perdeu valor nos últimos dois anos. "Os próprios orçamentos para as novas posições são de forma global inferiores, diminuindo a capacidade de atrair quadros 'empregados'". A legislação protege quem tenha um emprego estável e convida à pouca mobilidade. "Não haverá muitos quadros que se disponibilizem a dar um salto no desconhecido porque, na prática, isso tem um preço", reforça. Os que o fazem sucumbem a algo de incontornável na expressão "despeço- -me": uma inversão de papéis com a entidade patronal que exacerba o ego, traduz João Quadros. Um "alívio" para uns, "liberdade" para outros. Em qualquer das situações, um novo começo. por
Margarida Videira da Costa, Publicado em 15 de Julho de 2010 Jornal i
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Ó FLÁVIOOOOOOOOOOOO!!

"Procura-se:Rapaz entre os 20 e os 25 anos, com uma t-shirt dos Pearl Jam e com uma camisa de xadrez de flanela verde.Fez a linha Cais do Sodré-Algés, no dia 10 de Julho, entre as 18h e as 19h, com quatro raparigas de Guimarães, que falavam pelos cotovelos e tinham assim um ar meio perdido. Ah! E que têm uma solidariedade particular com focas.O Flávio tem um sobrinho, mora em Sintra e mais não sabemos a não ser que deve ser mesmo muito boa pessoa (só pode, porque não foi a um concerto de Alice in Chains para tomar conta do sobrinho, ajudou-nos a "contornar" filas abismais para ir para Algés sem nos conhecer de lado nenhum e, obviamente, porque gosta de Pearl Jam).Perdemo-nos dele na entrada para o Alive e gostávamos mesmo (nós, as quatro raparigas de Guimarães, que falavam pelos cotovelos e tinham assim um ar meio perdido) de lhe agradecer.Ah! E esperamos do fundo da nossa alma festivaleira que tenha ficado bem lá à frente enquanto que o Eddie Vedder bebia uma garrafa de vinho (um maduro alentejano, aposto), desfilava com a bandeira de Portugal nas costas e emocionava 45 mil pessoas com afagos de espírito (outro nome que se dá às músicas dos Pearl Jam).Bem gritamos a noite toda pelo FLÁÁÁÁÁÁÁÁÁVIO, mas não resultou. Ainda acredito que foi porque não pedimos o megafone emprestado aos Homens da Luta.Flávio, se algum dia leres esta mensagem, é só mesmo para te dizer OBRIGADA!" Tendinha de Santiago de Catarina Abreu

Tomei a liberdade de copiar este texto do blog de uma amiga porque não saberia descrever melhor. Acrescento apenas que deve ser um rapaz que anda de metro todos os dias porque tinha passe e não daqueles cartõezinhos verdes descartáveis que na viagem seguinte já mal funcionam. E contrariei praticamente toda as "regras" deste blog, colocando fotos pessoais porque, apesar de saber que ninguém deve ler esta página, seria incrível se o nosso "salvador de Sodré/Oeiras" nos reconhecesse pela foto onde, pouco depois de o termos perdido, brindávamos agradecidas por tanta solidariedade/simpatia em terras do Sul. OBRIGADO FLÁVIO!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

*2

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo deantemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amorpassou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-senuma variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que deviaser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam"praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides,borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos ocoração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha.Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor.É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá paraperceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É´a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha,não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém.Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.


*ELOGIO AO AMOR
Miguel Esteves Cardoso
in Expresso

*1

Por causa das circunstâncias da vida, a maior parte das pessoas não tem condições de escolher ou de aguardar o amor total. A questão colocada (e profunda) é: quem escolhe? Quem pode dizer-se capaz de escolher? Quem pode garantir a sua capacidade de não ceder ao acto de ser escolhido/a?Só quando a escolha é mútua se dá a raríssima possibilidade de felicidade. Em geral, aceita-se ser escolhido ou luta-se por quem se escolhe. Raro é o caso em que não há escolha: há descoberta mútua. Nesse caso, a amor pode vir a ser total.A mútua descoberta prescinde da escolha. Ela cria um mágico território de adivinhações. Não é, porém, o habitual. Ou o homem escolhe a mulher na base de apelos variados (sensualidade, afectividade ou segurança) ou a mulher escolhe e consegue conquistá-lo.Só conquista quem "ganha" a alguém, quem "vence" outrem. E amor não é vitória, é descoberta! É profunda afinidade inexplicável.
O "tu" não é um resultado do eu que o ama e invade. O "tu" é o máximo de liberdade porque con-vive com o eu, sem ser o eu e convive com o nós sem, igualmente, o ser.O "tu" é a descoberta e a percepção do outro. A possibilidade de ficar com ele, sem jamais ficar como ele. É saber do outro, sem sair do "eu" e sem trair o "nós".
Sem paz, não há amor. A invasão de paz talvez seja o maior indicador do sentimento que por arder parece ser o inverso: o amor.A paz é amor porque só surge quando se está ao lado de alguém sem medo, sem culpa, sem pena, sem ter que explicar ou se explicar, sem interesse algum, senão o de ficar ali.
Não tema o romantismo. Saia a cantar e olhe com alegria. Recomenda-se: ser apanhado em flagrante gostando; não se canse de olhar e olhar; não atrapalhe a convivência com teorizações; adiar, sempre que possível com beijos "aquela conversa importante que precisamos de ter"; arquivar as reclamações pela pouca atenção recebida.Não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.Não tenha medo, principalmente de tudo o que teme: a sinceridade, o fracasso, vir a sofrer depois (sofrerá de qualquer maneira); abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que sente.


*Do Amor - Ensaio de Enigma
Artur da Távola

(dedicado a ti, linda, morena e sorridente de biquini
às flores verdes e laranja...
E a quem tem um dom para identificar portugueses por te fazer
"ficar com os passarinhos todos")

domingo, 30 de maio de 2010

Try a run, try a hide
Escape your only truth, for a while
Live the past, create a picture, it won't last

A million colours to a lie, it won't last
When the sun is cold and black
When you wanna scream and shout
And the record plays the dark side of the moon

Brighter days, on a distant shore
You realized it's steep, to the top
Never fight, a never win reality
A million colours to a lie, that will fade

When the sun is cold and black
When you wanna scream and shout
And the record plays the dark side of the moon

So good.. let me lose myself..

When the sun is cold and black
When you wanna scream and shout
And the record plays the darkside of the moon

...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Solidariedade por apenas 0,50 Cêntimos






Adira à magia das tômbolas na Avenida D. Afonso Henriques... Sai sempre prémio, o que neste caso é a dobrar, já que comprar é sinónimo de ajudar...
(...)
Podia chamar-se, por estas semanas “Avenida das Tômbolas”… Na Avenida D. Afonso Henriques, depois da Feira de Artesanato, antes da praça da alimentação, e de frente para a Igreja e para o parque dos carrosséis infantis, há um caminho de peregrinação que obriga à passagem dos visitantes… Obriga à passagem e apela à solidariedade de todos…
A magia das tômbolas começa com a barraquinha das Missões Consolação de Moçambique onde uma Irmã que mora no Lar de Sant’Ana e foi professora na Escola Gonçalves Zarco, vende rifas enquanto conta a história da cantina que as Irmãs radicadas em África estão a construir. Além dos artigos tradicionais deste tipo de banca, encontramos uma novidade… Saiu-nos “um café” que é o mesmo que dizer que o papelinho mágico dá direito a ir a um dos cafés da zona que aderiram a esta iniciativa para pedir a “bica solidária”.
“Esta também é uma forma do comércio tradicional se associar às iniciativas de angariação de fundos das instituições do Concelho”, explicaram-nos.
Mais à frente encontramos a tômbola da Casa do Caminho onde reinam os brinquedos e os bonequinhos de peluche que levam os mais pequenos ao delírio. Comprar um por apenas 50 cêntimos é o mesmo que contribuir para o bem-estar de muitas e muitas crianças que, na Senhora da Hora, fazem desta casa um lar, um refúgio, um porto de abrigo.
A Comissão Social de Freguesia de Matosinhos e Guifões também marcou presença este ano, assim como os escuteiros de várias Freguesias. Mesmo ao lado está a barraquinha do Lar de Sant’Ana com a venda dos tradicionais tijolinhos e dos porta-chaves em forma de coração. Comprar uma rifa nesta barraquinha é sinónimo de contribuir para as obras de ampliação e melhoramento do lar e refeitório social.
E eis que chegamos à tômbola mais antiga e tradicional das Festas do Senhor de Matosinhos. A “gaiola verde” da Obra do Padre Grilo foi oferecida, há décadas, pelo Lions Clube ao mentor desta instituição, o Padre Grilo que, cedo montou uma “barraquita” na festa para angariar fundos através da venda de “algumas caixitas de fósforos”. Quem nos conta a história é a Dona Conceição Silva, responsável da obra que dá abrigo a dezenas de rapazes de Matosinhos oriundos de famílias desestruturadas. Aqui saiu-nos um esfregão e uma senha que dá direito, se encontrarmos outra igual, a levantar uma garrafa de champanhe.
Ao fundo, junto à Igreja do Senhor de Matosinhos, encontramos a tômbola das Obras Sociais de Nossa Senhora de Fátima (Cruz de Pau) onde os jovens predominam, deitando por terra a ideia de que o voluntariado não é coisa que cative a juventude. Nesta banca – de onde, em outros anos, já saíram bicicletas, sendo que nesta edição o prémio mais apetecido é uma torradeira – tivemos a sorte de conseguir um bilhete para o sorteio de fim de Festas e um pano de cozinha.
Mesmo por trás, encontramos a barraquinha da ALDI – Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual, instituição localizada na parte mais a Norte do Concelho, que é uma referências na área do apoio a pessoas com deficiência, bem como um “estandarte” de como fomentar, desde cedo, os valores sociais nos mais novos.
Isto antes de chegar ao adro da Igreja, onde a tômbola do Internato Nossa Senhora da Conceição parece escondida, mas está repleta de atractivos. Se não que dizer dos prémios do sorteio final onde o primeiro classificado pode ganhar uma playstation, o segundo uma bicicleta e o terceiro um jogo didáctico. O sorteio realiza-se a 14 de Junho e os prémios podem ser reclamados até 14 de Julho.
Ora bem… Estas são, entre outras, as tômbolas das Festas do Senhor de Matosinhos, onde por 0,50 Cêntimos pode conseguir prémios muito úteis e a satisfação de estar ajudar muitas e muitas pessoas.
in "Jornal de Matosinhos" (Maio de 2010)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

(no) Coração de Matosinhos



A antiga Casa dos Pobres de Matosinhos - o Lar de Sant'Ana gerido pela Congregação espanhola Irmãs de Nossa Senhora da Consolação - apoia, diariamente, mais de cem pessoas

“De mãos dadas pelo próximo, continua a nossa missão” – é o lema das actividades do Lar de Sant’Ana que, este ano, se associou às Festas do Senhor de Matosinhos de uma forma especial. Refeições a preços populares e muita animação no coração do Senhor de Matosinhos… Os fundos revertem a favor das obras do lar e do refeitório social. DIAS: 14, 15, 22, 23 e 24 de Maio e grande Arraial Minhoto no sábado, dia 29.
Dezenas de voluntários abrem o Lar de Sant’Ana à comunidade. Caldo verde, moelas, rissóis, bolinhos, sardinha assada, pratos quentes e pratos frios, chouriça assada, bom vinho… Ao ar livre ou coberto…
No Lar de Sant’Ana vivem 72 idosos, enquanto ao refeitório social – o único que em Matosinhos serve refeições quentes durante todo o ano – chegam, diariamente, cerca de 30 sem-abrigo. No apoio domiciliário são ajudados 20 utentes. Ao todo, o Lar de Sant’Ana serve 160 refeições diárias.
O projecto de melhoramento e ampliação do lar – chamado de “A Terceira Fase do Lar de Sant’Ana – Matosinhos: ampliar, reorganizar e requalificar” – visa a melhoria das condições de apoio médico e de enfermagem aos utentes, o aumento e requalificação das áreas comuns do edifício, em particular do salão e do refeitório, reorganização do espaço, concentrando os serviços sociais (secretaria, apoio social e direcção) junto à entrada principal do edifício, melhoria das condições de trabalho dos colaboradores, nomeadamente através da requalificação dos seus vestiários, ampliação do refeitório social de 25 para 40 utentes, instalação de uma valência de Acolhimento Temporário, instalação de uma valência de Apoio Domiciliário, dinamização do voluntariado e criação de uma “Liga de Amigos”.


Av. D. Afonso Henriques,
antes da Igreja Paroquial,
no coração da Romaria
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sábado, 1 de maio de 2010

Antes que Abril acabe... (No 1.º de Maio)



A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
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Foto/painel: Jonny Cuba (artista do BE de Matosinhos)
Música: Zeca ou Ary
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sexta-feira, 26 de março de 2010


vATICANO / fEV 2010

Nem todos os textos começam de ideias complexas, mesmo que – algo que quase nunca me acontece – a primeira palavra escrita seja o título, esse complexo por natureza, sobretudo por ser de natureza complexa. “Fé”. Palavra escrita (ia escrever que por impulso, mas raciocinei nela ao longo de tempo demais para agora lhe chamar impulso) por necessidade. Por necessidade de verbalizar a palavra F ´ E !
Podia ser o título de uma reflexão sobre sensações diurnas em mãos ou por mãos nocturnas. Poderá ser. Quem sabe? Mas acho que é o título de uma (mais uma) divagação sobre a (cá está ela outra vez) natureza. Complexa? Talvez… Estranho, porque a palavra despertou-me tanta simplicidade ao longo do dia. E por falar em estranho e em verbalizar… Apetece-me escrever na primeiríssima pessoa. Não que não o faça amiúde, mas porque não o imaginava fazer tendo esta palavra como introdução.
Acontece-me sempre, ou quase sempre, quando decido, finalmente, iniciar um texto/relato do que me assalta (neste caso da palavra que me assalta/assaltou) durante o dia, à noite, esquecer-me rapidamente de todas as ideias que me levaram a querer escrever sobre isto. Lembro-me, vagamente, de ter pensado em “Fé” em vários momentos ao longo do dia em contextos diferentes, sob estímulos diferentes e mesmo em momentos de humor diferentes. Quando a vi nos trabalhinhos em material reciclável dos meninos da Escola dos Quatro Caminhos, explicados por uma professora que carrega a responsabilidade de coordenar um projecto como quem carrega a missão de mudar o mundo através de crianças de seis/sete anos "porque ainda podem ser mudadas". Quando a ouvi nas palavras de um rapaz, criança grande, que não sei mais como não iludir. Quando me assaltou ao me lembrar da data de hoje, do mês de hoje, do ano de hoje. Quando me apercebi de como está perto a data, o(S) domingo(S), da quadra do primeiro ano de hoje. Quando ouvi, no relato de uma matosinhense voluntária na Índia, palavras como "religiosidade" e "euforia" na mesma frase. Acho que, em espaços de tempo diferentes, me cruzei várias vezes com a fé… Hoje, quando nada o fazia prever e quando, num dia normal e sossegado, me apetecia desfrutar do sossego de não ter fé e da normalidade de já não ter que pensar nisso.
Fugindo aos tais estímulos do dia e aproveitando a espontaneidade desresponsabilizada da noite, posso enveredar por outro tipo de raciocínio sobre o título.
A última vez que falei de fé em voz alta foi com a autoridade de quem explica um capítulo da História. Foi quando contei a Lenda do monte da minha Freguesia. Antes, penso que falei de fé em voz alta, sem qualquer autoridade, quando tentava explicar a sensação de estar onde, achava eu, me iria (re)encontrar com a fé por ser, acreditava eu, o sítio dela por excelência. Foi quando descrevi a Fé de Fátima como uma Fé desesperada que aprecio, sinto, compreendo. Foi quando me vi sem saber o que fazer à Fé num espaço de Fé grandiosa que não senti, não compreendo e não consegui apreciar, a não ser espelhando-a numa qualquer atmosfera de património mundial, maravilha do mundo ou história da civilização. E antes disso não me lembro de, em voz alta, ter falado de fé a não ser há muito muito muito tempo atrás.
Hoje não falei de Fé em voz alta apesar de ter sentido a palavra a gritar durante todo o dia. Num dia calmo, sossegado, uma quinta-feira quase tão simples e leve como as quintas-feiras dos tempos em que quinta-feira era Quinta-feira. A Fé assaltou-me, enquanto palavra, através de gestos, relatos, esperanças e, sobretudo, assimilações sobre o hoje do(S) próximo(S) dias.


pORTO - mAR 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Creixomil















Num dia cinzento e frio de Fevereiro, Creixomil, Freguesia que conheço há 25 anos, mostrou-me o seu estado bruto, o seu “eu” mais puro, o Creixomil mutualista. No dia em que se comemora a Santa, o dia religioso (2 de Fevereiro), Creixomil assume contornos de espiritualidade. Vêem-se velas nos beirais das portas e janelas e o frenesim é intenso, embora quase silencioso. Na Pascoela, nos dias em que se comemora a Padroeira (sempre no fim-de-semana depois da Páscoa), Creixomil reveste-se de grandiosidade, o imprevisto só dá pelo nome de chuva, a vinda do artista mais pimba do momento é motivo de orgulho até para os que não apreciam esse tipo de música, os comes e bebes na barraquinha são uma tradição. No dia do cortejo/leilão (algures entre o dia da Santa e a festa da Padroeira), Creixomil não se reveste de nada. Despede-se para ser puro, para ser verdadeiro, para ser Creixomil em estado bruto.
Ontem, num dia de muito frio, comecei a assistir cedo aos rituais do cortejo. “A nossa prenda é para levar ao Café S. Miguel… O nosso carro sai da cooperativa, mas se não fores ao café, vai sem a nossa prenda”. Poderia lá o carro da Rua dos Cutileiros/Alberto Viera Braga (ou simplesmente zona do ciclo)/Travessa da Arrufina/Rua da Igreja/Travessa do Salgado (aquela que vai pra Esso…) seguir sem a nossa prenda. Cheirava a frango assado a minha casa de manhã. Sai para cumprir funções laborais, prometendo vir a tempo de levar a prenda. “Eu ia lá, mas tu gostas… E o povo gosta tanto quando te vê participar nisto”. De volta, eram 14h00, mais ou menos, já estava gente junto à padaria e outro aglomerado perto da antiga Casa do Povo. “Tava a ver que não… Olha, já foram para a cooperativa... Mas a Judite prometeu que te deixa subir ao carro pra dar a prenda quando passarem aqui à porta. Este ano o cortejo passa aqui…”.
Uma rosca envolve um frango assado e chouriças. Os palitos com azeitonas são para ornamentar. O pano de renda também. Creixomil no seu estado puro saiu à rua para o cortejo de angariação de fundos das festas da Pascoela. Até quem pouco ou nada liga à fé, neste dia, não por vergonha mas por querer fazer parte de um qualquer espírito de comunidade que aguarda o ano todo por se manifestar, partilha, participa, oferece coisas, comida, felpos e panos lá da confecção, vinho da propriedade, copos com publicidades que sobram nos cafés, jogos de cama pró enxoval, produtos de beleza de marca e qualidade que vieram do cabeleireiro, galos vivos e galos mortos, bolos e bolos feitos de madrugada, ventoinhas, fritadeiras, muitos e muitos artigos de fábrica … E sai tudo à rua.
Muitos carros… Da Boucinha, do Salgueiral, do Alto da Bandeira, da Cruz de Pedra, do Bairro dos Machados, do Rio de Selho, dos Cutileiros… Os porcos foram oferecidos pelo lavrador de Eiras. A lenha deu a Sra. Dona da Quinta de Laços. E vai o cortejo com o rancho a enfeitar a dureza dos tractores e das carrinhas de caixa aberta. Creixomil em estado bruto! “Vais ao leilão? Arranjam-se pechinchas e o dinheiro é pra festa da Senhora… Vais?”.
Ontem, no monte da Senhora da Luz, em Creixomil, Guimarães, vizinhos que falam uma ou duas vezes ao ano, incluindo aquela vez em funerais ou missas de sétimo dia, ajudaram-se nas licitações. Carregaram cabaças alheias rua abaixo para deixar à frente de portões que raramente transpõem. Arremataram bolos e cabritos assados (“o do restaurante era uma categoria e até passou os 18 Euros”) para convidar os trabalhadores do dia para um lanche. “Era o que faltava hoje ser a Comissão a oferecer… Guardai o dinheiro pra festa…”. Creixomil comunitário, Creixomil mutualista, Creixomil em estado puro!

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Notas avulsas sobre uma melodia sintonizada

Nuno Cachada
26 anos
A preparar um disco de originais
Academia Valentim Moreira de Sá
Festival da Canção Vimaranense
Concurso Internacional de Leiria
Concurso Legatto do Porto
Portugal
Alemanha
Espanha
Quinteto “Argentino”
Piazzolla
Qualidade interpretativa
Qualidade técnica
Flamengo
Média de 19 valores em guitarra clássica
Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco

Concertista
Professor

Destaque para a adaptação de temas portugueses para a sonoridade de guitarra clássica

Inspiração é, em/com Nuno Cachada, sinónimo de instrumento (para ouvir e ver)
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domingo, 24 de janeiro de 2010

Oh lord what can i say (e chegou 2010 :-p )

Look to the clock on the wall
Hands hardly moving at all
I can't stand the state that i'm in
Sometimes it feels like the wall's closing in

Oh lord what can i say
I'm so sad since you went away
Time time tickin' on me
Alone is the last place i wanted to be
Lord what can i say

Try and burn my troubles away
Drown my sorrow the same way
It seems no matter how hard i try
It feels like there's something just missing inside

Oh lord what can i say
I'm so sad since you went away
Time time tickin' on me
Alone is the last place i wanted to be
Lord what can i say
Lord what can i say

How many rules can i break
How many lies can i make
How many roads must i turn
To find me a place where the bridge hasn't burned

I'm so sad since you went away
Time time tickin' on me
Alone is the last place i wanted to be
Oh lord what can i say
I'm so sad since you went away
Time time tickin' on me
Alone is the last place i wanted to be

Lord what can i say
Lord what can i say
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