segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Uma saudade

Um pôr de sol
Uma gaivota
Um mar infinito
Uma praia deserta
(assim)
...

domingo, 17 de agosto de 2008

"A girafa que comia estrelas" (4)


(...)

Olímpia e Dona Margarida tornaram-se grandes amigas.
Todas as manhãs quando acordava, com a barriga cheia de estrelas, Olímpia enfiava a cabeça nas nuvens para procurar Dona Margarida.

Como as nuvens correm no céu, por vezes a grande velocidade, Dona Margarida viajava muito. Um dia estava em cima da savana, e no outro podia acordar em Luanda, em Lisboa ou até em Nova Iorque. Lá de cima, das nuvens, espreitava o mundo e tirava as suas conclusões:

“Os homens”, contou ela a Olímpia depois de pensar muito, “os homens são animais estranhos: vivem empoleirados uns em cima dos outros, em grandes galinheiros.
Estão sempre com pressa, correm o tempo todo, como formigas, de um lado para o outro, e acham que são felizes assim”.

Uma bela manhã Olímpia acordou e viu que não havia nuvens. Enquanto o sol brilhou o céu esteve sempre azul. No dia seguinte a mesma coisa e no outro também. Por onde andaria Dona Margarida? Passou-se um mês sem sinal de nuvens.


(…)
...
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
...
Olá pequena estrela… Falta um mês… Humm… Talvez mais ou talvez menos para conheceres o solinho do céu. Como tens um nome já, já há muitas pessoas que te conhecem e falam e planeiam e chamam por ti. Tenho uma notícia muito boa para nós: já tens um carrinho pretinho muito bonitinho. Vamos puder passear muito e conhecer histórias e ver coisas bonitas… Continuo a dar-te as boas-vindas assim… Ah e também falo contigo porque a mamã diz que já reconheces sons. Até já estrelinha da tia…
...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Às vezes não me lembro logo…

Às vezes não me lembro logo…
19 de Maio (3h00)

Não quis continuar a frase. Era tarde e tive esperança que a sensação não se repetisse.
Mas acontece sempre.
Às vezes é só depois de pensar um bocadinho, outras é no banho. Estou na banheira e começo a acordar, o sorriso matinal acaba ali, debaixo do chuveiro. Paro enquanto a água corre. Deixo os braços caírem, enquanto sinto o corpo gelar, parado debaixo de água cada vez mais quente e lembro-me.
Lembro-me e assimilo, enquanto o coração começa a apertar como se o bombear das artérias significasse a assimilação de uma realidade gelada num corpo a escaldar de vontades.
É assim quando me lembro no banho.
Prefiro lembrar-me deitada, embora isso implique decidir e planear os passos de um dia que sei, ali mesmo, que nunca mais vai acabar.
Tem acontecido menos, mas às vezes só me lembro na rua, depois de inconscientemente te desejar “Bom Dia”, de me vestir a pensar que quero estar bonita para ti, de pegar no perfume e sorrir enquanto o coloco como se fosse um momento de sensualidade matinal entre o corpo que sempre vi como teu e o pensamento que está sempre em ti.
Às vezes não me lembro logo…

Agora, pensando bem, prefiro lembrar-me só mais tarde. Seria perfeito nem lembrar...
Para sorrir o dia todo.
20 de Maio (19h30)

...

Património









Teve o nome de “Quinta de Villa Franca” e foi mandada edificar por João Santiago de Carvalho, na última década do século XIX. O projecto foi desenhado pelo veneziano Nicola Bigagglia, radicado em Portugal desde a década de 1880, e a Casa de Santiago é Museu e Centro de Artes de Matosinhos há dez anos.

São paredes repletas de história, histórias sobrepostas sobre camadas de tinta e desenhos... Mobílias que sussurram segredos de quem as tocou... Espelhos que ainda reflectem o vulto singular de dois amantes... Num quarto, uma lareira recorda as vezes que furtivamente se escapuliram os corpos, em calor... Os vitrais fechados suspiram e as janelas semi-abertas transpiram...

Diz-se que a utilização desta casa se tem vindo a suceder como objecto de paixão. Porque, dizem, primeiro foi residência de um casal de apaixonados incompreendidos e, hoje em dia, é símbolo de uma paixão partilhada pelas gentes de Leça da Palmeira.

Esta não é a primeira vez que a Casa de Santiago sofre obras de requalificação, na década de noventa coube ao arquitecto Fernando Távora projectar a adaptação do edifício a museu. O espaço museológico foi inaugurado em 1996.
...
Além de ter séculos de história, a Casa de Santiago sobressai entre o leque de residências transformadas em museu pela sua arquitectura. Trata-se de uma casa ao gosto da sua época, com detalhes revivalistas e eclécticos, misturados com elementos de vários estilos desde o manuelino, neo-barroco e romântico. No fundo, são paredes e tectos com toques de arte diferentes, juntos num todo comum que pede para abrir portas...

(+-)exertos de peça publicada no "Jornal de Matosinhos"
com o título: "Museu reabre em Setembro"_edição de 8 de Agosto

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Valsa de um homem carente

Se alguma vez te parecer
Ouvir coisas sem sentido
Não ligues sou eu a dizer
Que quero ficar contigo
E apenas obedeço
Com as artes que conheço
Ao principio activo que rege desde o começo
E mantêm o mundo vivo

Se alguma vez me vires fazer
Figuras teatrais
Dignas de um palhaço pobre
Sou eu a dançar a mais nobre
Das danças nupciais
E em minhas plumas cardeais
Em todo o meu esplendou
Sou eu, sou eu nem mais
A suplicar o teu amor

É a dança mais pungente
Mão atrás e outra à frente
Valsa de um homem carente

M
...

LAÇOS

Andamos em voltas rectas
Na mesma esfera,
Onde ao menos nos vemos
Porque o fumo passou.

A chuva no chão revela,
Os olhos por trás.
Há que levar o que restou
E o que o tempo queimou.

Tens fios de mais a prender-te as cordas,
Mas podes vir amanha,
Acreditar no mesmo Deus
Tens riscos demais,

A estragar-te o quadro.
Se queres vir amanha,
Acreditar no mesmo Deus

Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços.. .

Andamos em voltas rectas
Na mesma esfera
Mas podes vir amanhã
Se queres vir amanhã
Podes vir amanhã

Tens riscos de mais
A estragar-me a pedra
Mas se vieres sem corpo
À procura de luz

Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Meu amor
Meu amor...


TORANJA
...
PARABÉNS
SOFIA
!

gaivota dos alteirinhos

Dança sobre as ondas do mar
gaivota dos Alteirinhos
desperta dia após dia
a vida da praia ainda fria


Plana a seu belo prazer
sobre o caranguejo e o sargo
entre as malandrices de verão
e o sorriso terno do chão


Gaivota dos Alteirinhos
é tão bom ver-te voar
gaivota dos Alteirinhos
nunca deixes de acordar
nunca deixes de acordar


Entre o chilli-out e o transe
a sinfonia dos grilos
um pouco de rock'n'roll
e uma valsinha ao pôr do sol


E finalmente o luar
adormece satisfeita
essa gaivota sereia
nos braços do homem-areia


Gaivota dos Alteirinhos
é tão bom ver-te voar
gaivota dos Alteirinhos
nunca deixes de acordar
nunca deixes de acordar


MESTRE OUTRA VEZ
...

Como Nossos Pais

Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...


ELIS REGINA
...

Leãozinho

Gosto muito de te ver, leãozinho,
Caminhando sob o sol.
Gosto muito de você, leãozinho,
Para desentristecer, leãozinho,
O meu coração tão só,
Basta eu encontrar você no caminho.
Um filhote de leão, raio da manhã,
Arrastando o meu olhar como um imã.
O meu coração é o sol, pai de toda cor,
Quando ele lhe doura a pele ao léu.
Gosto de te ver ao sol, leãozinho,
De te ver entrar no mar,
Tua pele, tua luz, tua juba.
Gosto de ficar ao sol, leãozinho,
De molhar minha juba,
De estar perto de você e entrar numa.

SEGUNDO MESTRE
...

FELICIDADE

Felicidade foi se embora
E a saudade no meu peito ainda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque sei que a falsidade não vigora

A minha casa fica lá de traz do mundo
Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar
O pensamento parece uma coisa à toa
mas como é que a gente voa quando começa a pensar

Felicidade foi se embora
E a saudade no meu peito ainda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque sei que a falsidade não vigora

Na minha casa tem um cavalo tordilho
que é irmão do que é filho daquele que o Juca tem
E quando pego meu cavalo e encilho
Sou pior que limpa trilho e corro na frente do trem
Felicidade foi se embora

E a saudade no meu peito ainda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque sei que a falsidade não vigora

A minha casa fica lá de traz do mundo
Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar
O pensamento parece uma coisa à toa
mas como é que a gente voa quando começa a pensar

Felicidade foi se embora
E a saudade no meu peito ainda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque sei que a falsidade não vigora

Na minha casa tem um cavalo tordilho
que é irmão do que é filho daquele que o Juca tem
E quando pego meu cavalo e encilho
Sou pior que limpa trilho e corro na frente do trem

CAETANO VELOSO
...
A
Sofia
faz
anos
!

D. Quixote foi-se embora

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior

esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual
E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar
A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p'ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

MESTRE
...

DANCEMOS NO MUNDO

Isto é como tudo
não há-de ser nada
a minha namorada
é tudo que eu queira
mas vive para lá da fronteira

Separam-nos cordas
separam-nos credo
se creio que medos
e creio que leis
nos colam à pele papéis

Tratados, acordos
são pântanos, lodos

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só

Por ódio passado
que seja maldito
amor favorito
não tem importância
se for é de circunstância

Separam-nos crimes
separam-nos cores
a noite é de horrores
quem disse que é lindo
o sol-posto de um dia findo

Sozinho adormeço
E em teu corpo apareço

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só

Em passos tão simples
trocar endereços
num mundo de acessos
ar onde sufocas
lugar de supostas trocas

Separam-nos facas
separam-nos fawtas
pai-nossos e datas
e excomunhões
acondicionando paixões

Acenda-se a tua
luz na minha rua

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só


SÉRGIO GODINHO
...