quarta-feira, 18 de junho de 2008

"O melhor do mundo são as crianças"






Eu queria unir as pedras desavindas
escoras do meu mundo movediço
aquelas duas pedras perfeitas e lindas
das quais eu nasci forte e inteiriço
..
Eu queria ter amarra nesse cais
para quando o mar ameaça a minha proa
e queria vencer todos os vendavais
que se erguem quando o diabo se assoa
..
Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber por que dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais
..
Conta-me os teus truques e fintas
Será que os Nikes fazem voar
Diz-me o que sabes não me mintas
ao menos em ti posso confiar
..
Agora diz-me agora o que aprendeste
De tanto saltar muros e fronteiras
Olha p'ra mim vê como cresceste
Com a força bruta das trepadeiras
..
Põe aqui a mão e sente o deserto
Tão cheio de culpas que não são minhas
E ainda que nada à volta bata certo
eu juro ganhar o jogo sem espinhas

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NÃO ME MINTAS
Composição: Carlos Tê
Interprete: Rui Veloso
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FOTOS: Festa de encerramento da época escolar
no Centro de Congressos e Desportos de Matosinhos_ Espectáculo
"Conta-me histórias..." da Escola de Teatro Sanctus Mamethus_7600 crianças (EB1/JI)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Um karateca mais táctico que os tácticos da linha de ataque

Desta vez a menina não apareceu. Talvez esteja em casa mais entretida com desenhos…
Mas desta vez há um jogador especial… De kimono branco vestido, vai fazendo passes pouco seguros, enquanto ajeita o cinto de algodão amarelo à volta da cintura.
Os restantes seis – e desta vez o ponta-de-lança azul está do lado do verde, provavelmente rendido à eficácia do companheiro de ataque – parecem não dar importância ao jogador de kimono. Nem o vêem, talvez…
A supremacia da equipa dos líderes naturais começa a evidenciar-se, até que as luvas caem no chão… Há desistências. O guarda-redes prefere um lugar no banco e assiste conformado. Os outros começam a voltar a casa, um a um, cabisbaixos, vencidos, mas com o ar de quem volta, assim que a energia restabelecida faça as pazes com o orgulho.
Então, as equipas – que já não são equipas porque o singular número de jogadores é, neste caso, sinónimo de duas únicas cores: o azul e o verde – resolvem resgatar o primeiro conformado já esquecido da bola, mais entretido com o treino de karaté solitário (ou não).
A bola volta a ditar regras…
O jogo dos penaltis requer um kimono à baliza…
O azul marca… O verde também…

E continuam... E correm e festejam e rematam e marcam e festejam.
Não estão sós, o kimono branco excluído é cúmplice da euforia porque as férias ainda agora começaram e o sol ainda não garantiu se fica.
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Ah… e Andrea Pirlo não perdoa e de… penalty… coloca a Itália, para já, nos quartos-de-final…
Ah… e o jogo de ontem, afinal, ficou Polónia: 0 Croácia: 1

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segunda-feira, 16 de junho de 2008

A ala feminina de um jogo de sonhos

A (única) menina resolve o ritmo de jogo e a formação das equipas conforme simula (ou não) choramingar junto a um poste. De braços cruzados sobre a camisolinha vermelha que combina – tal como ditam as actuais leis do patriotismo – com uns calçõezinhos verdes, faz um beicinho que deixa os mais velhos rendidos. Rendidos à ternura que um beicinho de menina pequena tem ou rendidos à força de um grito mais velho que soa da janela do segundo andar.
E a menina volta ao jogo. Troca passes suaves de sabrinas por pontapés fortes de quem se impõe no jogo táctico-infantil de pequenos jogadores cheios de sonhos.
São duas equipas e duas balizas improvisadas entre árvores e de um lado está um ponta-de-lança de camisola às riscas azuis e brancas e do outro lado um de camisola que combina o branco com o verde (e outros fieis seguidores).
E uma menina, mais ou menos, ao centro.
(Ainda não se decidiu a qual pertence a vestimenta que combina beicinhos vermelhos com toques fortes e desproporcionados verdes)
A menina sai de jogo outra vez. Os restantes seis jogadores olham de soslaio para cima sem coragem de perder tempo, nem a oportunidade de aproveitar o restinho de sol da tarde, o sol que, à tardinha, se rendeu ao primeiro dia de férias.
É golo da equipa verde. Não serve de nada à azul ter luvas na baliza improvisada. Já perde por muitos. Troca-se de campo e muda-se de estratégia, sem tempo a perder porque o sol volta a ameaçar os jogadores sonhadores. Novo golo.
E a menina do beicinho? Não, não está encostada ao poste, nem a passear-se pelo estádio de calçada amarela ignorando o risco dos dribles e das cabeçadas.
A menina está sentada no fresquinho da sombra do poste direito da baliza da equipa verde. Simula um novo choramingar enquanto alinha raminhos de relva que estorvam as chuteiras dos perfeccionistas da bola.
Novo golo e a menina é chamada a intervir. Levada em ombros pelo marcador daquele estouro, abre os braços num voo que lembra vedetas de tempos recentes.
E... Sem beicinho, mas já no chão, a menina volta a cruzar os braços junto ao poste, enquanto os jogadores sonhadores lhe vão passando, ao ritmo que a bola e os passes permitem, a mão pelo cabelo em tom de “desculpa”.
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É quase hora de jantar, mas hoje não há TPC's para fazer. As férias e o sol devolveram (-me) os meninos(na) que jogam no átrio do prédio da minha rua de traz. É GOLOOOOOOOOOOOOO. Hum, quase. Polónia: 0 Croácia: 0
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quinta-feira, 12 de junho de 2008

**bonavalpt**










"AS VIRTUDES DE SANTIAGO DE COMPOSTELA"
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Bom Dia 4D

A resposta a uma pergunta que me fizeram há mais ou menos um ano: “De que é que tens mais saudades?”. Na altura, respondi: “Foram tantas coisas…”.

De que é que tenho mais saudades…

Hoje, aqui, sentada na praça onde fui desafiada a integrar uma animação de rua – estava de lenço na cabeça, lembro-me bem, e fomos ao restaurante chinês a seguir, na zona nova, foi depois da missa que cumplicemente assistia acompanhada – apetece-me responder a essa pergunta.
De que é que tenho mais saudades...
Do fim de tarde. De um daqueles fins de tarde que não tinha horas. Tenho saudades de ser a segunda a chegar à sala e de me render ao sofá. Sorrir ao gozo que um “Bom Dia” bem português me era dado pela mais corajosa e primeira a chegar à sala. Retribuir o “Bom Dia” num aceno mudo, quase maroto ou num misto de rendição ao sono com vontade de despertar. Esperar pela terceira a chegar à sala e depois observar…
A Mariana a beber sumo de palhinha. A Catarina a tratar dos estragos das unhas da noite anterior. Um sofá para cada uma, ambas alheias à minha observação, as três à espera que alguém iniciasse o fio condutor da vivencia de véspera.
O fim de tarde… O nosso fim de tarde do 4D, de onde se via o sol a pôr-se entre prédios e muros com o pico da catedral ao fundo, pequenino mas visível, conforme o nevoeiro, o do clima, e o dos olhos do 4D.
No 4D, o fim de tarde sem horas era simples: três pessoas, três amigas, três portuguesas, sentadas, entretidas ou não, ensonadas quase sempre, alheias aos fins de tarde para lá da Calle San Xoan.
Tenho saudades de não ter coragem de me levantar rendida ao sofá que me embalava o tardio despertar. E tenho saudades do início da roda-viva, das mensagens que começavam a soar, variando o corajoso que iniciava o projecto de dia, ao fim da tarde.
Tenho saudades de ganhar coragem de me levantar porque era preciso fazer compras, pensar no jantar, arrumar a véspera e decidir se são precisas uma ou duas mesas no centro da sala. Tenho saudades de regular o fim de tarde, sem tempo, pelas luzes que se acendiam, aos poucos, lá fora. Tenho saudades de regular a necessidade de despertar pela hora de fecho do Gadis.
Ver a Mariana acabar o sumo e pedir pormenores sobre os planos. Ver a Catarina começar a arrumar tudo, freneticamente, deixando cair vernizes no meio de garrafas de Estrella Galicia. Ver a noite cair… Guardar uma qualquer recordação de véspera no bloquinho das recordações e correr para ser a primeira a tomar banho.
Do que tenho mais saudades…
Da rotina dos fins de tarde do 4D. Pareciam sempre diferentes, oscilando entre o alheamento preguiçoso e a adrenalina expectante.
Do que tenho mais saudades…
Do “Bom Dia” português da Calle San Xoan, ao final da tarde.
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Santiago de Compostela // 5 de Junho de 2008 // 18h30

*Tentei ir a nossa casa. Tentei ir ao 4D, mas ninguém atendeu. Queria que a foto fosse recente e queria saber quem vive lá agora. Queria saber se ainda se vê a Catedral ou se tiraram ao 4D, com a construção de novos muros, a vista, os picos, o horizonte. Não abriram, não atenderam. Não pensei nessa possibilidade. Tinha ensaiado o discurso para pedir para subir e percorri o túnel da Dra. Dubra Cabeza várias vezes para ganhar coragem. Pensei que se não conseguisse era porque não tinha coragem de pedir ou porque não me deixariam. Não me lembrei que podia não estar ninguém no 4D. Regressei ao centro, comprei dois postais e escrevi para duas amigas.

FOTO: tirada a 15 de Janeiro de 2005 (diz o item "propriedades" da pasta "casa"/ERASMUS)

Liberdade
Jorge Marmelo, Público_edição: Quinta-feira, 12 de Junho de 2008
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O texto que hoje devia ocupar este espaço estava alinhavado desde domingo, mas ontem, enquanto lia aqui no PÚBLICO a entrevista da Matilde Rocha Dias ao checo Antonín Panenka, resolvi mudar tudo, um pouco como fez David Villa no lance do terceiro golo da Espanha frente à Rússia: parecia que ia tentar pela esquerda, que ia desequilibrar-se pela pressão do defesa, mas, num desses instantes que mudam o rumo dos acontecimentos, puxou a bola para a direita e reinventou uma jogada que parecia perdida. O futebol é assim mesmo, tanto mais extraordinário quanto seja entregue a intérpretes capazes de esquecerem os milhões de pessoas que têm os olhos postos neles nesse instante, jogando como se ainda estivessem no recreio da escola, no quintal com os primos ou, vá lá, no clube do bairro onde ensaiaram as primeiras habilidades a sério, com linhas traçadas a cal num campo de saibro enlameado.Instado a definir o louco penálti que deu a vitória no Europeu de 1976 à Checoslováquia, Panenka explicou-o como "uma ode à beleza e à liberdade". "Naquela final de 76, tenho a certeza de que fui o jogador mais livre do mundo", acrescentou. Um tipo achacado ao sentimentalismo lê isto, emociona-se e decide deixar inédita uma crónica que teria por título a palavra "optimismo" e a trocá-la por outra que se inspirará precisamente na liberdade que Panenka sentiu nessa longínqua final de Belgrado. Trata-se, no fundo, da mesma coisa: o checo jamais teria marcado aquele penálti daquela maneira se não fosse um optimista do futebol, capaz ainda de acreditar que há lugar para a liberdade individual (e para a poesia) na prisão claustrofóbica dos sistemas tácticos, das pressões altas, das marcações individuais e do cinismo dos resultados.
O caso é que, tal como sucede na vida comum, o futebol precisa absolutamente do optimismo desbragado e da louca liberdade dos seus melhores cidadãos. Scolari pode confiar pouco nos homens e não apreciar particularmente a iniciativa individual, preferindo encomendar-se à virgem de Caravaggio, mas o que o mundo recordará do primeiro jogo de Portugal neste Euro 2008 será a louca correria de Pepe em direcção à baliza de Volkan, esquecido da função que lhe estava destinada e das regras que o aconselhariam a não se aventurar tão longe da baliza que devia, antes de tudo, tratar de defender.Para os amantes de Panenka, do optimismo e do futebol positivo, este Euro 2008 tem sido uma pequena festa: a cínica Grécia perdeu, a hipócrita Itália ruiu diante de uma Holanda que avança em campo garatujando versos no relvado e o passe de Iniesta para o segundo golo da Espanha contra a Rússia é daqueles momentos que nunca mais se esquecem. O médio do Barcelona modificou a geometria e inventou espaço onde ele não existia antes - e mudar as regras é algo que só está ao alcance dos espíritos livres.
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De manhã, depois de um encontro com antigos conhecidos do estágio, e depois daquele momento que se vai sucedendo de “conheço-te de algum lado, mas de onde?”, aos quais respondo sempre, já habituada/conformada, com um sorriso nos lábios “estagiei lá em 2006”, lembrei-me: “Gostava tanto de ler as tuas coisas e tenho-me esquecido de estar atenta…”.
Agora, depois de uma tentativa de conexão com a realidade Euro2008, para além da conexão Euro2008 que vai para além da tentativa, esbarrei num texto do conhecido que vi de manhã. E gostei, outra vez.
Coincidências?
… Simpáticas!
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segunda-feira, 9 de junho de 2008

GIRAsSOL

Proibiram que eu te amasse

Proibiram que eu te visse

Proibiram que eu saísse

E perguntasse a alguém por ti

Proibiram muito mais

Preguem avisos

Fechem portas

Ponham guizos

Nosso amor perguntará

E daí, e daí

Daí por mais cruel perseguição

Eu continuo a te adorar

Ninguém pode parar meu coração

Que é teu

GAL COSTA
E daí?


Tirei esta foto há dias. Já não sei quando, mas sei que foi naqueles dias que giram no sentido contrário ao sol. Senti sempre ou soube sempre que chegaria o dia de a partilhar. Até tentei mais cedo. E até escrevi outras coisas. E até já tentei combinar essa partilha. Ingenuamente, porque o sol não combina quando brilha.
Agora, como em outras vezes, talvez como aquelas vezes em que os dias tinham, no girar, o seu sentido certo, recordei como se encaixam os sentidos. Ver e escutar… Depois de lhe tocar e de lhe sentir o perfume… E quando o girar era sinónimo de saborear?
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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Um pequeno/grande mimo

Não sabe porquê mas todos o conhecem por “Tareco” e poucos lhe chamam Eduardo Santos, o seu nome verdadeiro, que fez questão de não esconder, uma vez que, diz, não tem “medo” nem “vergonha”. À pergunta – “Onde mora?”, responde sem reservas: “Moro na rua. Vivo de uma reforma pequena. A minha família só me quer se lhes der o dinheiro todo. Gosto da liberdade de andar sempre a passear”…
Ao lado, Zé Reis apresenta-se de forma diferente: “Moro no bairro dos pobres, junto à Petrogal. Não tenho família. Estou à espera do rendimento mínimo há dois anos, mas parece que o processo está encravado. Arrumo carros para conseguir dinheiro para tabaco e comida”. À pergunta – “Sente que não teve sorte na vida…”, responde sem deixar terminar: “Não tive, mas a vida é mesmo assim”…

…A história de dois homens que partilharam, embora por razões diferentes, a mesma mesa posta…

O “Tareco” do Parque Basílio Teles, onde costuma descansar, depois de vir do passeio que quase sempre passa pela Rua Brito Capelo, orgulha-se de ter tido muitas profissões – pescador, pasteleiro, entre outras – e dos tempos que passou na Alemanha, na construção civil, onde se aleijou numa perna. De volta a Portugal ainda continuou a procurar trabalho – “Tomara eu trabalhar”, desabafa – mas da procura à reforma por invalidez, e da reforma ao mau estar em casa, “foi um pulo”. Agora é, repetimos, o “Tareco” do Basílio Teles que com 260 euros mensais e a ajuda do Lar de Sant’Ana, onde vai almoçar e tomar banho diariamente, lá vai fazendo a sua vida sem prescindir do bem mais precioso que adquiriu ao optar por este modo de vida: “A sensação de liberdade é muito boa”.
Questionado sobre os principais gastos de quem vive cá e lá, com e sem tecto, responde: “Primeiro está a comida. Não é um vício bom, mas quando recebo a reforma compro logo os cigarros do mês todo. Escolhi viver assim, porque para viver, para viver como a gente toda vive, este dinheiro não chegava”. Eduardo Santos só lamenta um gasto que deixou de ter: “Já não sou sócio do Leixões. Deixei de pagar por isso já não sou. Era o 6853”, diz, quase a soletrar, vincando o número que, por perdurar na memória, mostra como continua a ser – sem cadeira e sem cartão – “um verdadeiro leixonense”.
A história e até o olhar de Zé Reis são um bocadinho diferentes. As lágrimas começam a engrossar e a escorrer pela cara quando se pergunta pela família: “Não tenho pai nem mãe. Vivo assim porque não tive sorte”. Acerca do modo de vida que escolheu, mais do que explicar o porquê da escolha, recorda que o “ofício de arrumar carros” é “bem melhor do que matar e roubar”, coisa que “nunca” lhe passou pela cabeça, apesar da tristeza que sente por estar “sozinho no mundo”.
Zé Reis foi pintor e empilhador. O último emprego que teve foi numa fábrica da Maia que fechou depois de um roubo e de um incêndio. Guarda boas recordações da J. Gonçalves Morais e dos patrões que, lembra, “não tiveram culpa nenhuma dos despedimentos porque tiveram azar”. Questionado sobre os seus passatempos e esclarecido que “passatempos” não é o mesmo que “boa vida”, conta-nos: “Às vezes não sei o que fazer e deito-me na cama a pensar. Vou convivendo nos cafés com alguns amigos, mas fujo logo porque não quero nem posso passar dos dois copitos de vinho. Não me meto em confusões. Isto não é uma boa vida, é passar o tempo…”.

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Eduardo Santos tem 48 anos e é natural de Matosinhos. Já Zé Reis, de 51 anos, é leceiro de “alma e coração”. Estiveram num almoço promovido por quatro alunos da Escola Secundária da Boa Nova, Leça da Palmeira, num dia diferente que ambos classificaram com “cinco estrelas”
))

exertos de peça publicada no "Jornal de Matosinhos" com o título: "Alunos da Boa Nova promovem almoço para pessoas carenciadas"_edição de 30 de Maio

"A girafa que comia estrelas" (2)

(…)

Primeiro porque quando espirram assustam todos os outros bichos, e sacodem as árvores e as coisas, e algumas chegam mesmo a perder a cabeça (a cabeça pode saltar com a força do espirro); depois porque é difícil conseguir um cachecol capaz de cobrir pescoços tão compridos.

Olímpia, porém, gostava de andar com a cabeça nas nuvens – queria ver os anjos.
A avó Rosália, mãe de dona Augusta, dissera-lhe que os anjos dormem nas nuvens. Também lhe dissera que quando as pessoas morrem se transformam em anjos.
Dissera-lhe isso pouco antes de morrer.
Por isso Olímpia passava o dia inteiro com a cabeça enfiada nas nuvens. Tinha saudades da avó.

À noite comia estrelas.
Enquanto as outras girafas dormiam, Olímpia subia ao morro mais alto da savana, levantava o pescoço e comia estrelas. As estrelas ardiam um pouco na garganta, mas eram doces e macias, e sabiam a pêssego. Ao contrário do que seria de supor, a noite não ficava mais vazia por causa disso.

À medida que Olímpia comia estrelas, outras estrelas nasciam, novinhas em folha, brilhando ainda mais do que as antigas.
Assim, de certa forma, ela renovava a noite. Olímpia nunca encontrou nenhum anjo.

(…)

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

Pequena estrela… Agora faltam menos de cinco meses, e continuo, assim, a dar-te as boas-vindas. Sabes que já tens um quarto bonito com paredes pintadas de verde e amarelo e de amarelo e verde? E tens muitos e muitos casaquinhos e coisinhas que a avó não pára de fazer. E tens outras coisinhas que a tia comprou e tens a promessa… Vamos conhecer muitas histórias, pequena estrela? Sinto-te ansiosa por sentir o ventinho do céu e o quentinho do sol… Até já estrelinha brilhante!

Pirilampo Mágico

O verdinho de 2008