sexta-feira, 31 de agosto de 2007

(ocorreu-me)

Acredito que...
"mais vale tarde que nunca"
Mas...
sinto-me sempre
ATRASADA!
...
(durante uma conferência sobre o futuro das profissões)

domingo, 26 de agosto de 2007

Através do vento


Hoje quis que o vento me levasse até ti
Desejei voar e ser invisível
Poder chegar dar-te um beijo e fugir
Hoje quis ter o dom do toque que sabe a vida
Do toque discreto que sussurra
Quis ser vento para puder voar até ti
Sem que notasses, sem que me visses, deixava-te um beijo e fugia
Não tenho o dom, mas tenho o desejo
E por não conseguir ser vento
Por não saber voar
Hoje depositei um beijo que chegará até ti
O sussurro é do vento, o toque é do beijo e as asas invisíveis procuram o dom que cumpra o desejo

Recebe-me… recebe-me bem
Vou de braços abertos
Foi a força do desejo que me fez chegar até ti

sábado, 25 de agosto de 2007

Sozinho... à espera

Arrastava-se pela praia queimado pelo sol, a pele já estava gasta, era grossa, exposta aos raios, exposta ao sal. Os dedos até já tinham perdido a conta às feridas, que saravam até ao próximo anzol ferrugento, até à próxima rede rasgada. Arrastava-se pela praia porque já não sabia o que era levantar os pés, grossos e ásperos, e porque a pele conhecia a areia e desconhecia, há muito, o uso de sapatos, ele próprio questionava-lhes o conforto, enterrando ainda mais os pés pesados, na terra molhada. Os colegas do tasco invejavam-lhe a cabeleira grisalha, um cabelo cada vez mais claro e cada vez mais fino, grande e vasto para a idade, sempre penteado de acordo com o sopro do vento e cortado a lamina, por jeito e amizade, por uma das peixeiras, uma das habilidosas, da aldeia. A roupa, trocava-a como se cumprisse um ritual. Traje de trabalho: uns pares de camisolas de lá, calções de botões, e traje de festa (domingueiro, chamado "o de ir à missa"): calças compridas, camisa branca de colarinho esfolado pelos anos de uso, ou azul, muito comprida e larga por seu primeiro dono abastado em gordura.
Os restos de peixe sabiam-lhe, todos os dias, a iguarias preparadas por ninfas do mar, mas eram as mãos grossas e secas, as suas as responsaveis pelo único repasto que lhe dava gozo. Preferia acreditar na qualidade da ementa, e fazia bem. Há umas semanas que o vinho tinha acabado, ou melhor a zurrapa de vinho velho misturado. Restava-lhe o "cheirinho" que tomava para acompanhar o cigarro cravado todos os dias, à mesma hora, ao mesmo "patrão" que só ia ao tasco para ler o jornal do povo, que parecia mal levar para casa.
Calado, gostava pouco de dar nas vistas, chegava discreto e anunciava-se com um quase inaudível "boa noite", pouco dado às cartas, por preferir o silêncio do xadrez, era rápido no jogo, sucinto nas frases trocadas, sôfrego nos goles. Cigarro acendido pelo parceiro, olhos no chão, leve acenar de cabeça, reflectia-se no caminho para casa.
Depois os olhos procuraram qualquer coisa para entreter a falta de sono, a soleira da porta convidou-o a sentar, os que passavam cumprimentavam, alguns com fome de conversa rendiam-se rápido às respostas monossilábicas. Tempo de ver o que as estrelas reservavam para o dia seguinte: "Vai estar bom tempo", atirava para despachar que lhe incomodava a tranquilidade. Era respeitado por saber ler as estrelas e por entender bem as marés. Ainda ajudou o vizinho, o bêbado da rua, a rodar a chave na porta, ouviu gritos, viu luzes acenderem-se e curiosos escondidos atrás de cortinas de renda branca.
Até que, serenada a rua e cansada a vista, deitou-se, não dormiu, há anos que não dormia, mas esqueceu a vida, sonhou (sim, sonhou acordado) com o barco de outrora, com a vida de antes, com a caldeirada de peixe que serviu da última vez que recebeu gente em casa. Boa forma de passar as horas.
Todos os dias, a mesma rotina.
Na sua pose de sempre, sorria uma vez: ao levantar, rezada a lenga-lenga do costume, e mesmo antes de comer e depois de passar agua pelo rosto queimado, sorria… Sorria quando beijava um dos dedos da mão esquerda, o anelar, o que servia de refugio a duas alianças de ouro, muito iguais, mesma gravação. A única, mesmo a única, riqueza que tinha entre quatro paredes com cama, cadeira, fogão… cada vez menos móveis, nada a decorar, além da foto antiga mantida à cabeceira, qual santuario improvisado.
Lembrava-se bem do dia em que tinha trocado o sono e os sonhos com planos, pelo correr das horas entre recordações. Lembrava-se que naquele dia, a sua mão esquerda tinha ganho riqueza, já o coração tinha ficado mais pobre.

Era um novo dia…
Chamavam-lhe o "Velho do Mar da Aldeia de Baixo", nome longo para quem apenas era um homem só que estava à espera.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Sabe tão bem...


"Vou viver
Ate quando eu não sei
Que importa o que serei
Quero é viver
Amanhã
Espero sempre um amanhã
E acredito que será
Mais um prazer
A vida é sempre uma curiosidade
Que me desperta com a idade
Interessa-me o que está para vir.
E a vida
Em mim é sempre uma certeza
Que nasce da minha riqueza
Do meu prazer em descobrir
Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir"
...
António Variações
...
Sabe tão bem sentir
Sabe tão bem receber
Sabe tão bem dar
Sabe tão bem dar e receber
Sentir a mesma cumplicidade
E que o carinho de sempre, por ter sido sempre muito mutuo, existe
Sempre
Seja no Porto, seja entre o Porto e Viseu...
Porque seja como for, sabe muito bem ser adoptada por uma madrinha com um coração tão grande!
Por isso... VAMOS VIVER!
(obrigado pela prendinha ;-)

sábado, 11 de agosto de 2007

SIM, cá estamos nós outra vez

Olá!
Sempre apanhaste o tal comboio?
Eu já perdi dois ou três...
Entre o ócio e as esquinas ganhei o vício da estrada
Nesta outra encruzilhada talvez agora a coisa dê
O passado foi à história, cá estamos nós outra vez!

Conheço a tua cara mas não sei o teu nome
Escrevo já aqui não sei o quê arroba ponto 'com'
Eu vou-te reencontrar noutro bar de estação
Ou talvez quando perder mais um avião
O barco vai de saída, tu estás tão bronzeada
É tão bom ver-te assim ardente... tão queimada

Eu quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
Sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
Quero reconhecer-te e beber um café
Dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
Sorrir-te cá do fundo e subir os degraus
Eu quero dar-te um beijo a 50 e tal graus!

JORGE PALMA
Voo Nocturno
(numa madrugada que esperava a manhã, o amanhã)

Eles MUITO vivos

Sem tempo e sem espaço… Ontem, ou anteontem, nunca há tempo, e só há, às vezes, espaço, era um concerto, era sentir num concerto ao ar livre, e ouvir a música (mais algumas partilhas) a ecoar no meio do barulho das árvores, misturada na natureza – estão sempre fundidos na natureza. Hoje era água, se calhar ontem é que era água, e muito verde, e pés descalços na terra.
Sem tempo e sem espaço… Apesar de terem falado, talvez, numa ilha, ou em duas, ou em bocadinhos de uma, ou até nove… Sem tempo e sem espaço… Porque nem o tipo de música sabiam, nem escolheram. Não precisavam, os sentidos guiam-nos sempre, e guiam-nos bem – sim conhecem os instintos, as ambições, as vontades, o querer, o saciar – deles, juntos.
Sem tempo e sem espaço, com confiança nos sentidos guiados pelo toque, pelos lábios, pelo abraço dado na hora exacta, quiçá na hora em que a saia rodada se apresenta com ar tímido, mas assumido, desafiador, nada inocente, diz ele, simplesmente encantado, diz ela… Quiçá na hora em que as mãos se tocam disfarçadamente ou as pernas se cruzam depois de se procurarem como se procuram quando só a troca de olhares não basta… Quiçá no concerto ou na ilha, com música, com árvores, com dança descalça na terra, ou era na água?


Sem tempo e sem espaço… Ela do seu lado direito, ele naturalmente à esquerda, porque ela não sabe estar, com ele, sem estar protegida... Só sabem que, onde ou quando não sabem, só sabem que estão vivos!

FOTO: Óbidos (junho/07) depois de um concerto, antes de uma ilha, sempre e cada vez mais a sentirem que estão vivos

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Equador SEMPRE ao mesmo ritmo


Equador…
Os sons quentes…
Flauta de pau e cavaquinho, a América do Sul corria a rodar a saia de flores, de flores coloridas com pé descalço.

Bato no peito de olhos fechados. Palmas no peito ao ritmo do som quente dos instrumentos de corda, de sopro… de pau…
O ritmo confunde-se com as batidas do (meu) nosso coração, porque as pernas também tremem, também dão dicas, também querem embalos, desta vez embalos na dança quente.

Um espanhol que não domino de ouvido, nem de conhecimento.
Um espanhol que domino de sensação, de vontade, de ansiedade, de certeza que um dia vamos…
Se calhar até dominamos de pretexto, ou talvez de hipótese, porque connosco qualquer coisa é possível, qualquer hipótese, não há pretextos, e até pode ser espanhol, o importante é ir, é ser…

Quero rebolar-me em ti
Quero estar envolvida
Quero ser arrepiada por ti
Quero enrolar-me nos teus braços
Quero perder-me em nós
Quero estar suada, escorregar pela tua pele, ter as tuas mãos a balançar-me as ancas, o meu peito cravado no calor do teu
Quero com força, quero com tudo, quero dentro de mim, quero a ouvir o som quente e a dançar descalça

Ao mesmo ritmo
Vamos dançar no Equador, com o Equador, a ouvir Equador

Ao mesmo ritmo
Vou louca… louca… dançar entregue a ti
...
(em noite de Festival de Folclore Internacional a ver o Grupo de Danças Tradicionais Ecuatorianas Agosto/07)