quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Passeio dos prodígios
Vamos lá contar as armas

tu e eu, de braço dado
nesta estrada meio deserta
não sabemos quanto tempo as tréguas vão durar...
há vitórias e derrotas

apontadas em silêncio
no diário imaginário

onde empilhamos as razões para lutar!
Repreendo os meus fantasmas

ao virar de cada esquina
por espantarem a inocência

quantas vezes te odiei com medo de te amar...
vejo o fundo da garrafa

acendo mais outro cigarro
tudo serve de cinzeiro
quando os deuses brincam é para magoar!
Vamos enganar o tempo

saltar para o primeiro combóio
que arrancar da mais próxima estação!
Para quê fazer projectos
quando sai tudo ao contrário?
Pode ser que, por milagre,
troquemos as voltas aos deuses
Entre o caos e o conflito

a vontade e a desordem
não podemos ver ao longe
e corremos sempre o risco de ir longe demais
somos meros transeuntes

no passeio dos prodígios
somos só sobreviventes
com carimbos falsos nas credenciais
Vamos enganar o tempo...
MESTRE
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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Uma explosão de arte e de sorrisos





















"Até onde poderei sonhar?"
VALE A PENA VISITAR!
12º Juntos pela Arte
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Galeria Nave dos Paços do Concelho // Matosinhos // até 14 de Dezembro // Exposição e venda de peças de utentes
da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído
Intelectual, Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo e escolas do concelho // segunda a sexta das 9h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h30; fim-de-semana e feriados das 14h30 às 19h
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matosinhos dos pequeninos (2)




“Tivemos uma prenda de aniversário muito especial. Está tudo muito bonito e há mais coisas para brincar” – Rita (nove anos) e Renata (doze anos).
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Ludoteca da Junta de Freguesia de Matosinhos // Abertura após remodelação // 24 de Novembro de 2008 // Festejar a aprender…
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matosinhos dos pequeninos (1)






“Tentamos que a consciencialização ambiental e cívica não fique entre as quatro paredes do externato. É frequente ouvirmos pais comentar que fazem reciclagem em casa porque os filhos insistiram” – Belmira Soares, directora.

Externato Padre Cruz // Actividades integradas no Projecto “Mil-Escolas” da Águas do Douro e Paiva // 20 de Novembro de 2008 // Pensar a brincar…
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sábado, 22 de novembro de 2008

odor

Primeiro pensei que só precisava da imagem
Fui procurando através do calor
Molhei os lábios
A imagem deixou de ser visual
Fechei os olhos
Pernas tensas
Imaginei cenários

Deixei as mãos encontrarem calor por dentro da roupa
Ainda em expectativa
Deixá-las ir
Uma fricção (acho que esse é o termo)
Depois outra
é esse o termo
Sinto-os moles e quentes
Deixar-me ir
Posição

Mais algumas fricções
Perna contraída
Uns círculos
Senti-os rígidos
Pernas vibrantes
Ao fundo e em círculos e ao fundo
Lábios húmidos
Vibrações/fricções
Posicionada para gritar
Boca aberta demais para emitir sons

Língua suspensa
Abri os olhos
Estiquei as pernas
Ao fundo

Vezes compatíveis com gritos
Debruçada em concha
Até descontrair

Ritmadamente
A vibração que obriga os olhos voltarem a fechar-se
Abriram-se
Um suspiro lento e vagaroso
O sangue volta a correr em silêncio

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sexta-feira, 7 de novembro de 2008


...
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Doeu mais desta vez.
Tive medo de não saber defender-te.
E não soube.
De certo modo, já não sei fazê-lo.
E tu sabes que o fazia bem.
Mesmo bem.
A argumentação bruta não me assustava.
Não quando dependia de mim a tua defesa.
Não quando sentia que ia conseguir calar os sussurros.
Mas desta vez tive medo e doeu mais.
Defender-te era, às vezes, uma missão.
Continua a ser. Talvez.
Só que não fui capaz.
E tenho medo que o meu silêncio possa ter-me tornado cúmplice.
Quando agora sou tudo menos cúmplice. Sou só cobarde.
Sou, aliás, o teu novo argumento de defesa.
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

TARRAFAL - "o campo da morte lenta"




















“Entre os pavilhões A e B, em frente ao portão do Campo, ao fundo, há uma construção diferente de todas as outras (…)”

“(…) um pequeno pavilhão de paredes caiadas a ocre, janela e porta em madeira e cantaria vermelha, dividido em duas pequenas salas, uma de espera para os presos doentes e outra para o consultório médico;

“Era o Posto de Socorro mas também servia de Casa Mortuária, o que estava perfeitamente de acordo com o médico do Campo que mais gostava de assinar certidões de óbito do que tratar dos doentes.”

“Esmeraldo Pais Prata, nomeado médico do Campo de Concentração do Tarrafal por finais de 1936, só em Abril de 1937 se apresentou para dar consulta. Tralheira foi a alcunha com que o conhecíamos e aquela que merecia quem afirmava:

“(…) Não estou aqui para curar, mas para passar certidões de óbito.”

“A dor do doentes do Campo deixava-o indiferente. Pela calada da noite vinha assistir aos espancamentos. O muito ódio que tinha por nós era frio; a medicina, a arma com que feria. E como médico podia atingir-nos de muitas formas.”

Além de médico do Campo, era delegado de Saúde e Administrador do Concelho do Tarrafal

SOBRE O O POSTO DE SOCORROS E A CASA MORTUÁRIA
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

CV (4)

*Pequeno-almoço cabo-verdiano*



No Tarrafal. Já no terceiro dia. Domingo de manhã. Pequeno-almoço. Cachupa guisada: milho, feijão, ovo estrelado e linguiça. Eu provei, mas mantenho-me fiel ao pão com manteiga e ao “meia-galão”.
Foi inevitável lembrar-me das sopas de vinho com broa que a Marquinhas Cabreira de Creixomil comia ao pequeno-almoço. Embora a recordação me obrigue a pensar nos contextos. Bem diferentes. E da minha avó a explicar-me: “Usar? Usa-se. Usava-se. É que os velhos do meu tempo são pessoas diferentes deste teu tempo”. Lembrei-me entretanto da vindima da minha mãe. Interessante lembrar-me, aqui, dos “eventos” sociais/agrícolas da minha mãe. Interessante, lembrar-me automáticamente depois de me lembrar da Aninhas. É no dia da vindima da Carvalha, desde que me conheço por gente, que como um ovo estrelado de manhã e ve
jo o meu pai oferecer vinho a toda a gente quando ainda é quase madrugada. No campo, a caseira, a Bininha, apresenta travessas fartas com carne de porco e de vaca, muitos garfos à volta, um garrafão e uma caneca que vai passando de mão em mão entre escadotes e cestos de uvas. E pensar que antes até havia uma carroça. No tal outro tempo da Aninhas, quando se enchiam dois lagares.
Lembrei-me no Tarrafal, ao pequeno-almoço, entre garfadas que o Hélder me dá a provar e olhares famintos à espera do prato. Depois foi ver o olhar curioso da Cat e a cumplicidade confirmada quando conclui: “Gosto, mas preferia comer ao almoço”.
No Tarrafal já é domingo de manhã. Já se foi a banhos e já se dormiu depois do dia longo de sábado que incluiu o medo às pedras da Ponta de Atum. “Elas não saem do sítio, sabes?” – disse-me o Carlinhos com uma paciência espontânea e dedicada de quem está atento aos movimentos e aos minutos muito longos que antecedem a minha entrada na água.

Aquela água. Aquele mar. Este Tarrafal. Este fim-de-semana. E esta satisfação que vejo nos olhos de quem come uma cachupa guisada pela manhã, em Cabo Verde.

12 de Outubro ..

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

CV (3)

*Cidade Velha, Ilha de Santiago, Cabo Verde*


Trocar dinheiro pela manhã. Tratar de expedientes como ouço Sori dizer. E ir ao mercado. Gosto de mercados. Tanta cor, tanta turbulência viva à volta de bancas confusas e animais em coro desregulado. Ir ao mercado na primeira manhã da Cidade da Praia, que conjugação perfeita realizada no meio de sons crioulos que, explicaram-me, são parecidos em substantivos e adjectivos – Sr. do telefone, o “D’já stá”, porque "o crioulo come letras aqui e acrescenta letras além”, o Toni, das fotos Toni – e só muda nos verbos.
O calor é convidativo. Transpirar é (apesar de puder parecer contraditório) uma lufada de ar fresco.
Vi o mar de Cabo Verde e a espuma foi-se apoderando da minha pele muito branca, sedenta de sol, sedenta de ar. A areia preta fez-me novas formas nos pés. São pegadas novas. Pensei!
E a simplicidade harmoniosa de ser convidada para almoçar. Casa do Hélder com a Joana (empregada de… há quantos anos? “Vida toda!”) e a mãe do Hélder, uma senhora que só podia ter uma família especial. Deram-me, com o coração mais aberto do mundo, feijão com arroz e chicharrinhos fritos daqueles que se come cabeça e tudo. Recebi com o coração agradecido de quem está na Cidade da Praia a comer uma das suas comidas preferidas, em família.
Depois ouvimos Sansa e a sua história sobre a fuga à droga, sobre a sua luta diária, sobre o seu renascimento. Ouvimos um bocadinho de Princesito – de quem a Mayra fala nos concertos – Lua… fica cu mi…
O vento que corre na estrada embala-me tanto quanto a conversa do Sori e do Hélder à frente a falar em crioulo.
Cegamos à Cidade Velha.
Uma Super Bock na esplanada da Cidade Velha, Ilha de Santiago, Cabo Verde.
E muita paz!
“Neste pelourinho eram chicoteados os escravos” – disseram-me.
Na Cidade Velha vi crianças a jogar à bola na rua. Gosto de meninos a correr na rua, ao ar, gosto de sorrisos rasgados.
E na Praia, também vi os meninos a sair das aulas de uniforme azul e branco já prontos para brincar na rua. Até parece que não há carros nas extensas ruas da “Moradia”. Extensas para os meninos de palmo e meio que acabam de sair do Liceu Domingos Ramos.
Estou a gostar de mim em Cabo Verde porque gosto de sorrisos rasgados e de corações abertos.

(Entretanto a Cat deve estar a chegar da senzala, vulgo "A Semana", e vamos trocar pormenores sobre este dia 9 de Outubro. Há um dia-a-dia entre nós, outra vez)

CV (2)

*Kasa Bela, o bar do Ney, no Plateau.Praia*


Sim, já estou aqui. Jantar e tudo. Primeira noite. Estive muito contigo Cat. Embora não esteja certa sobre se estivemos, de facto, juntas. Sei que a guitarra esteve connosco. Talvez, entre nós. E esteve a vida também. A vida que é vida e para sempre será vida também. Porque não? Hoje fui também observadora. Logo após o bafo e também após os búzios. Ah… afinal fomos juntas! Também aqui e agora.

(A Cat está a beber água, agora mais descontraidamente, depois de a obrigar a posar para a minha sessão fotográfica. Chegamos a casa depois de um primeiro reconhecimento pela noite cabo-verdiana. Não sei horas. Nao tem nexo)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

CV (1)

*Entre Lisboa e a Cidade da Praia / 8 de Outubro de 2008*


Para já só temos nuvens e uma imensa vontade que a viagem de avião termine.
Já planeei o abraço à Cat vezes sem conta. Sei que tenho de depositar nele a força e as saudades de muita gente. Parece-me. Sinto-me, de alguma forma, uma mensageira.
Para já (e acho que estou mais ou menos a meio da viagem de ida) já comi, já li 50 páginas do livro que trago e, para já, temos só nuvens.
Tenho o ombro esquerdo gelado e o pé direito dormente.
Não resisti e fui eu (também) à casa-de-banho mesmo sem precisar, só para ver o tempo passar e dar uma espreitadela. Há sempre uma certa curiosidade e eu não andava de avião desde a Madeira, e antes desde Nápoles, e antes desde a primeira vez – Paris de França.
(E andei umas vezes recentemente. Acredito que andei. Andamos!)
Agora, exactamente agora, nem posso falar de nuvens porque estou a passar por um espesso nevoeiro (que, nos olhos, vai passar).
O lugar, tanto este como o do voo do Porto até Lisboa, é ao lado das saídas de emergência. Sem querer dar uma carga pesada a esta viagem, confesso que estive atenta às explicações da hospedeira com um misto de responsabilidade – se acontecer alguma coisa tenho de ajudar o pessoal todo – e de ironia – calhou-me logo a mim ser a primeira a saltar. Eu que não consigo decidir nada na vida, tenho de decidir se tenho coragem (aquela adiada) ou se sou altruísta (consumando, finalmente, um sentimento atrasado)…
O livro que me acompanha é o “Canário” de Rodrigo Guedes de Carvalho. Comecei-o hoje (tirando duas páginas que chamaram a atenção quando o vi na estante do meu cunhado). Estou a gostar! É uma escrita fria que não se compadece com puritanos, embora, me pareça, seja dedicada exactamente a puritanos.
E cá vou eu.
O nevoeiro continua. Vai-se dissipando. É bonito o horizonte das nuvens. Sorte têm os pássaros. E os canários que não vivem em gaiolas!
O filme do Indiana Jones acabou e não vi (quem me conhece sabe que gosto do Harrison Ford (que ocupou outrora um lugar no meu imaginário de onde, agora, o George Clooney não arreda pé) mas no Indiana Jones, vá-lhe Deus. Que castigo) e este friozinho vindo da porta de emergência faz-me sentir um misto de desconforto e de simpatia. Simpatia pela TACV, a companhia aérea cabo-verdiana que me está a proporcionar esta viagem.
Viajo.
Tenho um pensamento, entre todos os sentimentos que me invadem – depois de ter corrido o aeroporto de Lisboa à procura de distância da proximidade por sentir que estava ali muito e depois daquele sorriso que soube a vida ainda fiquei ali demasiado – tenho um pensamento: saudades da Cat. Tenho saudades da minha amiga e um enorme sentimento de medo.
Não sei horas. Quanto aterrar coloco as horas.
Quando aterrar já estou contigo Cat!
Se bem que já me sinto pertinho de ti. Como tu disseste, Cabo Verde começou no aeroporto. E com medo ou sem medo, Cabo Verde já faz sentido.
Quando aterrar já vou contigo! E, em Cabo Verde, (também) havemos de estar juntas!

18h58 HORAS LOCAIS
(estou a preencher o visto e imagino a Cat lá fora à minha espera. Sinto-me ansiosa)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

I N H O


Muito sereno
Com os dedinhos compridos suspensos no ar
Talvez um sonho
Tremeu
Como uma espreguiçadela gigante
Ou simplesmente porque estava a sonhar
Continuou sereno
Alheio à atenção exterior
Muito intima
Talvez já cúmplice
Labiozinhos perfeitos
Orelhinhas muito bem delineadas
Um desenho
Um desenho muito bonito
Muito sereno
Uma serenidade já activa
Muito real
Ali
Já real
Sempre real
Estaria a sonhar
Tremeu como se quisesse despertar a noite
Para marcar presença
Mas sem acordar
Do sonho
Perfeito
Sereno
Real

A minha estrelinha nasceu
Tem 3,5 quilos, 48 cm, cara redondinha e dedinhos compridos
Hoje (agora mesmo) presenciei e apreciei
Pela segunda vez
Desta vez de noite
Quase em segredo
Quase como uma travessura
A primeira das muitas em que seremos cúmplices
Sussurrei
Rapidamente sussurrei antes de fugir
A frase
Nossa
E a nossa estrelinha estava a sonhar
Obrigado SIS
Nasceu um dos maiores sonhos da minha vida

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"A girafa que comia estrelas"

(…)

O espirro sacudiu as nuvens e começou a chover.

Choveu durante três dias e a terra voltou a ficar verde.

É por isso que, até hoje, as girafas são amigas das galinhas do mato.

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
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terça-feira, 16 de setembro de 2008

"A girafa que comia estrelas" (5)


(...)

Não havendo nuvens também não chove – a savana começou a secar. Era difícil encontrar alguma coisa para comer. As girafas andavam muito fracas. Dona augusta já quase não conseguia caminhar. Olímpia era o único animal, em toda a savana, que continuava gordo.

Podia faltar capim, podia ser difícil encontrar árvores com folhas tenras, mas à noite, no céu, havia sempre estrelas saborosas para comer.

Decidiu então partir à procura de ajuda.

Andou, andou, andou. Andou muito. Uma madrugada acordou com um alegre cacarejar. Abriu os olhos e viu Dona Margarida, lá em cima, pendurada numa nuvem.
Levantou o pescoço e foi ter com ela.
Contou-lhe o que tinha acontecido: na savana não chovia há muito tempo, o capim secara, as árvores tinham perdido as folhas, e os animais estavam a morrer.

O que fazer?

Dona Margarida fechou os olhinhos para pensar melhor.
Pensou com muita força:
“Já sei”, disse, “vamos soprar as nuvens”.
Parecia uma ideia tola, mas Olímpia experimentou e deu certo. As duas juntas, sopraram e sopraram, foram pouco a pouco enchendo de nuvens o céu da savana.

“E agora?”, quis saber Olímpia quando finalmente conseguiram juntar uma boa centena de nuvens mesmo em cima da terra seca.

“O que temos de fazer para que a chuva caia?”

Dona Margarida arrancou uma pena da asa direita e coloco-a no nariz da girafa:

“Agora espirra!”

Olímpia espirrou.

(...)

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

Vi. Vi numa estranha máquina em que apareces a preto a branco. Apareces sobre o aspecto de ondas ora serenas ora rebeldes. Ainda não imagino como és. Nem quero. Prefiro ver-te. E da próxima vez estarás mais nítido. E da próxima vez já te vou ver. E da próxima vez já me vou reservar o direito de imaginar como és. Como vais ser. Embora já sejas a estrelinha mais brilhante da tia. Até já…
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A certa altura


… A certa altura, dei por mim a olhar para tudo de olhos arregalados, como eles.
Como se visse patos a brincar na água e cabras e ovelhas a pedir carinhos
e pássaros a piar lengalengas pela primeira vez.
A certa altura pensei que era pequenina também
e que tinha direito a rir-me com a mesma inocência que lhes via nos sorrisos.
Hoje, os meninos não abraçaram árvores
mas só porque estava a chover. Era daquela chuva que não pesa nos ombros,
nem impede de caminhar, ainda que a passinhos de bebé, mas escorre pela cara e salpica as mãos antes de encher covinhas de nada…
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Sexta-feira // 5 de Setembro (16h00) // Passeio com meninos
da Obra do Padre Grilo (Matosinhos) // Parque Biológico de Gaia
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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Aquela noite de Nick Cave em que
eu não estava
...
Foi 22 de Abril
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porque é iluminado


Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com seu carinho
E lembrei de um tempo...
Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo em que era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
(que não tem fim)
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito
porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
há minutos atrás
...
Ney Matogrosso
Poema

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Uma saudade

Um pôr de sol
Uma gaivota
Um mar infinito
Uma praia deserta
(assim)
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domingo, 17 de agosto de 2008

"A girafa que comia estrelas" (4)


(...)

Olímpia e Dona Margarida tornaram-se grandes amigas.
Todas as manhãs quando acordava, com a barriga cheia de estrelas, Olímpia enfiava a cabeça nas nuvens para procurar Dona Margarida.

Como as nuvens correm no céu, por vezes a grande velocidade, Dona Margarida viajava muito. Um dia estava em cima da savana, e no outro podia acordar em Luanda, em Lisboa ou até em Nova Iorque. Lá de cima, das nuvens, espreitava o mundo e tirava as suas conclusões:

“Os homens”, contou ela a Olímpia depois de pensar muito, “os homens são animais estranhos: vivem empoleirados uns em cima dos outros, em grandes galinheiros.
Estão sempre com pressa, correm o tempo todo, como formigas, de um lado para o outro, e acham que são felizes assim”.

Uma bela manhã Olímpia acordou e viu que não havia nuvens. Enquanto o sol brilhou o céu esteve sempre azul. No dia seguinte a mesma coisa e no outro também. Por onde andaria Dona Margarida? Passou-se um mês sem sinal de nuvens.


(…)
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JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
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Olá pequena estrela… Falta um mês… Humm… Talvez mais ou talvez menos para conheceres o solinho do céu. Como tens um nome já, já há muitas pessoas que te conhecem e falam e planeiam e chamam por ti. Tenho uma notícia muito boa para nós: já tens um carrinho pretinho muito bonitinho. Vamos puder passear muito e conhecer histórias e ver coisas bonitas… Continuo a dar-te as boas-vindas assim… Ah e também falo contigo porque a mamã diz que já reconheces sons. Até já estrelinha da tia…
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