sexta-feira, 17 de outubro de 2008

CV (1)

*Entre Lisboa e a Cidade da Praia / 8 de Outubro de 2008*


Para já só temos nuvens e uma imensa vontade que a viagem de avião termine.
Já planeei o abraço à Cat vezes sem conta. Sei que tenho de depositar nele a força e as saudades de muita gente. Parece-me. Sinto-me, de alguma forma, uma mensageira.
Para já (e acho que estou mais ou menos a meio da viagem de ida) já comi, já li 50 páginas do livro que trago e, para já, temos só nuvens.
Tenho o ombro esquerdo gelado e o pé direito dormente.
Não resisti e fui eu (também) à casa-de-banho mesmo sem precisar, só para ver o tempo passar e dar uma espreitadela. Há sempre uma certa curiosidade e eu não andava de avião desde a Madeira, e antes desde Nápoles, e antes desde a primeira vez – Paris de França.
(E andei umas vezes recentemente. Acredito que andei. Andamos!)
Agora, exactamente agora, nem posso falar de nuvens porque estou a passar por um espesso nevoeiro (que, nos olhos, vai passar).
O lugar, tanto este como o do voo do Porto até Lisboa, é ao lado das saídas de emergência. Sem querer dar uma carga pesada a esta viagem, confesso que estive atenta às explicações da hospedeira com um misto de responsabilidade – se acontecer alguma coisa tenho de ajudar o pessoal todo – e de ironia – calhou-me logo a mim ser a primeira a saltar. Eu que não consigo decidir nada na vida, tenho de decidir se tenho coragem (aquela adiada) ou se sou altruísta (consumando, finalmente, um sentimento atrasado)…
O livro que me acompanha é o “Canário” de Rodrigo Guedes de Carvalho. Comecei-o hoje (tirando duas páginas que chamaram a atenção quando o vi na estante do meu cunhado). Estou a gostar! É uma escrita fria que não se compadece com puritanos, embora, me pareça, seja dedicada exactamente a puritanos.
E cá vou eu.
O nevoeiro continua. Vai-se dissipando. É bonito o horizonte das nuvens. Sorte têm os pássaros. E os canários que não vivem em gaiolas!
O filme do Indiana Jones acabou e não vi (quem me conhece sabe que gosto do Harrison Ford (que ocupou outrora um lugar no meu imaginário de onde, agora, o George Clooney não arreda pé) mas no Indiana Jones, vá-lhe Deus. Que castigo) e este friozinho vindo da porta de emergência faz-me sentir um misto de desconforto e de simpatia. Simpatia pela TACV, a companhia aérea cabo-verdiana que me está a proporcionar esta viagem.
Viajo.
Tenho um pensamento, entre todos os sentimentos que me invadem – depois de ter corrido o aeroporto de Lisboa à procura de distância da proximidade por sentir que estava ali muito e depois daquele sorriso que soube a vida ainda fiquei ali demasiado – tenho um pensamento: saudades da Cat. Tenho saudades da minha amiga e um enorme sentimento de medo.
Não sei horas. Quanto aterrar coloco as horas.
Quando aterrar já estou contigo Cat!
Se bem que já me sinto pertinho de ti. Como tu disseste, Cabo Verde começou no aeroporto. E com medo ou sem medo, Cabo Verde já faz sentido.
Quando aterrar já vou contigo! E, em Cabo Verde, (também) havemos de estar juntas!

18h58 HORAS LOCAIS
(estou a preencher o visto e imagino a Cat lá fora à minha espera. Sinto-me ansiosa)

1 comentário:

Por: Catarina Abreu disse...

Sabes o que devia fazer? este momento que descreves aqui, pôr o que senti/vivi nestas mesmas horas. assim uma coisa tipo o filme "amor cão", o que antecede um determinado acontecimento - o nosso encontro.

é acho que o vou fazer. e colocar no meu blog...