segunda-feira, 24 de março de 2008

Suspiros de vento

Ouvir o vento deitada na cama, enrolada em preguiças e em lençóis, e pensar, admirar o pensamento, respeitar a capacidade de pensar e agradecer ao vento.

O suspiro que antecede a força de vontade ou a resignação é como a flor do vento, dura segundos intermináveis de certeza imediata. Sopra-se, como o vento.

Também me lembrei de um corrupio. E lembrei-me que já quis ter asas, mas depois decidi que preferia respirar debaixo de água ou ser uma onda porque consegue as duas coisas, através do vento.

De entre mil coisas, de entre sonhos e fantasias e desejos e projectos, pensei, lembrei-me que gostava de andar de mota sem ter medo. E sentir o vento.

domingo, 23 de março de 2008

SEXTOS SENTIDOS

Dás-me a vontade
Dás-me o ouvido
De arrancar músicas ao ar
Na tempestade
Madeira e vidro
Saberão como não quebrar
As chamas trinco
O sexto sentido
Saberá tudo entrelaçar
É por tudo o que em nós corre
Que se vive e que se morre
Meu sangue sinto
Que à terra desce
E no teu corpo o sei lugar
Dentro do instinto
Tudo o que cresce
É forma boa de se amar
É por tudo o que em nós corre
Que se vive e que se morre
Eu toco, eu fujo, eu volto, eu passo
Giro nos meus seis sentidos
Eu desço à terra e subo ao espaço
Agarrado aos seis sentidos
...
LETRA:
Sérgio Godinho
INTERPRETE:
Silence 4

**Entre um copo de vinho tinto e algum fumo, e quando a música dá sinais de querer aproximar as mãos, os toques, a vontade de partilhar, embora de forma mais intelectual que física... Entre uma conversa que puxou outra... Fez sentido, um Sexto Sentido...** (Obrigado Sofia pela escolha, pela dica, pelo peixe e pela sopa)

sexta-feira, 21 de março de 2008

Hoje comemora-se...


DIA MUNDIAL DA ÁRVORE
E
DIA MUNDIAL DA POESIA


«
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite’inda orvalhadas:

Ou, vendo o mar, das ermas cumiadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces…

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
»
...
IDÍLIO de Antero de Quental (Sempre Bem!)
...
FOTOS: Actividades dos alunos das
Escolas do Agrupamento de Matosinhos - 14.Março08

sábado, 15 de março de 2008

PEÇA: "Mil Olhos de Vidro"


SINOPSE: "O que muda em nós sempre que à nossa frente se coloca um computador ligado ao Mundo? O que no ser humano se transforma quando do outro lado de um ecrã está um rosto invisível e disponível para ouvi-lo? ‘Mil Olhos de Vidro’ procura ser uma reflexão contemporânea sobre o que nos aproxima e o que nos divide numa era de telecomunicações de geração avançada. Vivemos um período onde o regresso à escrita concorre, seriamente, com o poder da imagem. O cibernauta é hoje um ser comunicante, uma pessoa que escolhe mostrar a vida e o pensamento aos outros, mais do que alguma vez fez no passado" (...)

ANTÓNIO REIS (ACTOR): "A peça trata de um tema actual, embora mostre o lado pior, os suicídios, as paixões, os desesperos que o virtual pode provocar. O teatro também tem essa função, não dá soluções, mas reflecte sobre as coisas. Fiquei fascinado com este texto, embora seja um tema polémico" *

FERNANDA LAPA (ACTRIZ): "A primeira vez que vi uma webcam foi aqui. As vidas virtuais não é só a Internet que as fabrica, as revistas cor-de-rosa oferecem uma espécie de realidade virtual aos leitores, e até as novelas têm um lado de alienação. Este texto é uma provocação e leva as pessoas a reflectir" *

PEDRO E FILIPE PINTO (AUTORES): "A ideia é que a nossa geração se veja espelhada no texto. Hoje em dia, é inevitável que as pessoas comuniquem virtualmente, quem não o faz sente-se desactualizado. Embora o texto destaque o lado negativo, seria possível fazer uma peça ao contrário, com as mesmas personagens, mas retratando o lado positivo" *

Encenação: Luísa Pinto - Texto: Pedro e Filipe Pinto - Música original: Carlos Azevedo - Interpretação: Fernanda Lapa, Filomena Cautela, António Reis e Carlos Peixoto

FOTO: Francisco Teixeira/CMM
(*) in "Jornal de Matosinhos" - Edição de 7 de Março de 2008

domingo, 9 de março de 2008

Sábado, 8 de Março de 2008


Andava pelas ruas como se as visse pela primeira vez, com vontade de as absorver por inteiro e de as descobrir ainda mais – Sugar todo o tutano da vida, tinha ouvido vezes sem conta e acreditava – e cheirava e observava e voltava atrás e andava ora em silêncio ora a trautear musicas sem nexo.
A dado momento parou e abriu os olhos. Quis perceber melhor, entrou, ouviu, sentiu e passou a trautear músicas com muito nexo, apesar de não saber as letras ou as entoar muito mal ao ouvido do percebido.
Não interessava! Sentia!
Voltou a sair com um cheiro que já era outro e com a vontade de desfrutar daquilo que tinha acabo de conhecer, absorver, descobrir… Sim! Porque era aquilo que queria.
Mas não havia pretexto. Pelo menos não existia pretexto maior do que o primeiro dedicado. Inventou-se o pretexto. Inventou-se bem e com harmonia.
E então ficou, já de olhos abertos, já mais segura de si, já conhecedora das sensações e confiante nelas – também confiava no destino que a tinha levado até ali, deixando de questionar o acaso por se sentir tranquila perante ele.
Ficou ali. E o pretexto deixou de ser pretexto, os olhos foram-se fechando até que fecharam totalmente, embora ainda expectantes. Muito expectantes! De manhã foi outro dia, outra luz, nova vida… A expectativa teve até capacidade de sorrir, á pressa, como se fosse uma ferida daquelas que já não acreditam em acasos para sarar.
Nunca mais voltou a percorrer as ruas… Voltou, mas não daquela forma expectante como se nunca as tivesse visto.

Que é feito de ti?
Que é feito deles?
Porque lhe chamam Lobos do Mar?
E que pranto é este que se exprime pela a fúria dos braços, através das lágrimas grossas e dos gritos roucos?
Tens o coração em ferida?
Consegues silenciar a dor como se fosses bronze frio?
E tens memória?
Lembras-te?
De tudo?
De tudo mesmo?

No dia em que troquei uma flor por uma flor. No dia que dizem ser, o Dia Internacional da Mulher.
Monumento evocativo do naufrágio de 1947 // 15h20 // Café TITAN - marginal de Matosinhos