domingo, 18 de março de 2007

Promessa é promessa…

(Sobre: quinta-feira, 15 de Março/07)
Sentadas no Piolho na que foi a verdadeira “saída caseira”: primeira vez sozinhas, a vez mais cúmplice, com a solidariedade a embrulhar a noite sem lua, ouviu-se: “Tens aí aquele livro de poesia?” ; “Sim”.
Aberto ao acaso, que nunca se engana, eis o poema que celebra o nosso momento. Prometi publica-lo (apesar de ser enorme) em jeito de dedicatória e de sumário da noite.
A foto: os Aliados como cenário, a bebida de eleição (quantos foram? Ahh 2+3+4) e algo de natureza para fazer-nos sentir os pés na
Terra.
Promessa é promessa colega… (olha o titulo com os três pontinhos de que gostas tanto) aqui tens, para ambas reflectirmos e partilharmos!
...
Tenho o furor de amar. Meu coração é louco.
O quando e o onde, e a quem, importa pouco
Que o clarão de beleza, virtude, ou pujança
Brilhe, e ele se precipita, e voa, e se lança.
E, enquanto a posse dura, de mil beijos cobre
O objecto ou o ser que o seu entusiasmo dobre
De um valor que não tem. Quando a ilusão se encolhe.
Regressa triste e só, mas fiel, como quem escolhe
deixar de si aos outros, ele, alguma cousa
De sangue ou carne. Mas não morre, nem repousa,
E o tédio o faz partir para a terra das Quimeras,
De onde nada trará, só lágrimas severas
Que saboreará. Teimoso segue avante,
Sem querer se dar conta que na infinitude,
Navegador casmurro, há sempre um escolho que há-de
Fazê-lo naufragar antes que aporte à margem
A que apontara o rumo da perdida viagem.
Mas trampolim ele faz do escolho, e logo nada
Para a praia. Lá está. Mas estranha vezada
Será que avidamente não corra e percorra,
Desde que o sol é nado até que o presente morra,
De lés a lés o promontório inteiro.
E nada! Árvore ou erva ou fonte no braseiro,
Mas fome só, e a sede, e o sol como metal,
E nem vestígio humano, um coração igual!
A ele não – jamais há-de encontrar alguém –
Mas coração humano, um coração também,
Que esteja vivo, ainda que falso, palpitante!
E espera, sem perder a força latejante
Que a febre lhe sustenta, e que o amor lhe ganhe,
Que um barco o mastro erecto ao longe lhe desenhe,
A que faças sinais, e venha, e que o recolha:
Assim ele raciocina. E quem se fia? Olha!...
Apóstolo tão estranho, um dia há-de acabar.
Se a morte o deixa sempre, aos outros quer matar.
Os mortos, os seus mortos, mais morto ele está
Uma fibra qualquer, sempre nas tumbas há,
Do seu fogoso ser, que aí vive docemente.
Aos mortos amo como uma ave o ninho quente.
Lembrá-los – almofada em que adormece e vai
Sonhar com eles, vê-los e falar-lhes. Sai,
Ainda embebido deles, para uma aventura horrenda.
Tenho o furor de amar. E então? Não tenho emenda.
...
Paul Verlaine

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