Foi no tempo da inocência toda. Quando não tinha medo do
futuro. As palavras saiam sem filtros. Com a insegurança toda que o tempo da
inocência acarreta, mas sem filtros. Lembro-me, no entanto, de tremer. Não tinha
medo de tremer. Saboreava. Não há vez que ali volte que não sinta a espinha
gelada. Uma saudade da inocência. Uma angústia face à ausência dela. Os movimentos
estavam, isso é facto, constrangidos. Persentia-se, desejava-se o
pretexto rápido. Os movimentos fluíram entretanto. O passado roubou-lhes o
constrangimento. O futuro camuflou-se de anestesia. Não há vez que por ali passe
e não me arrepie a nitidez como me recordo do tremer. Foi no tempo em que não tinha
medo de ter medo. Foi no tempo em que o medo não sabia sequer que existiam
filtros. A fluidez dos movimentos explica-se no contraditório, na ausência de
inocência, na perspectiva da espinha gelada. Não há vez que ali me sente que não
sinta, contraditório outra vez, a ausência de sentir, apesar do tremer todo me tomar conta do corpo, apesar
de ter os filtros todos em alerta. Foi no tempo da ausência de passado. No
tempo da inocência do futuro todo.
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