sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Embrulho

Em dias e dias, atrás de dias, dias iguais, dias chamados rotina, dias chamados cansaço, dias de silêncio e dias de gritos, dias desesperados à espera da noite, noites que demoram a ser dias atrás de dias, há momentos de dias que despertam, com uma naturalidade indescritível, o porquê de passarmos e aguentarmos esses dias, antes das noites e tendo consciência de que virão sempre novos dias de gritos, a maioria em silêncio.

Desses momentos, destaque para o fim de tarde de bola que transpira descontracção mental misturada com tensão intelectual. Só a ficha conta. O cronómetro marca o compasso do tempo. Os 90 minutos querem-se como uma espécie de absorção de forças para as próximas horas todas que antecedem o novo fim de tarde de bola.

Mas, a próposito dessa necessidade de ganhar forças e desses momentos de despertar para a necessidade de passar e aguentar todos os silêncios e todos os gritos, destaque para O momento "naturalmente indescritível".
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Lá em baixo, na garagem, fecha-se a porta com força, qual travessura de gente grande, para dar sinal de vida. Chegou alguém. As escadas vão sendo subidas aos poucos, ora a espreitar, ora a recuar. Chama-se o nome devagarinho e a sussurrar, antes de lançar o nome com força.
E no cimo das escadas, entre as gradezinhas brancas que separam o chão seguro do mergulho preocupante, aquelas mãozinhas pequeninas e um sorriso enorme. O desejo de abrir o obstáculo à força bruta como se não houvesse tempo a perder atrapalha a coordenação dos movimentos através de dedos delicados que querem pressionar o "botão da liberdade" fundida em abraço.
Que sensação de felicidade absorvida através do mais espontâneo e sincero dos sorrisos. Dois olhos enormes a pedir colo, aviões, coceguinhas… Que brilho! Que necessidade de dizer "Obrigado!".
Festinhas nas bochechas e narizinhos de esquimó entre mil animais espalhados pelo chão, porque "hoje é quinta na Quinta". Mil corridas pela sala, antes da brincadeira das cores: pretexto pró "peto" e pró "banco" que formam o "bitoia". Depois do kiwi "vede com olhinhos"…
Com as mãozinhas pequeninas, mas imensas! E os olhinhos a brilhar mesmo por cima do sorriso transparente.
"Uma pernita, duas pernitas, um bracito, dois bracitos, o pijamita do ãoão Salsicha que tem quatro patitas, uma 'etória'…" e a melhor frase do Dia: "BOA NOITE TI PAUINHA!".
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Após partilha deste(S) Momento(S) – como se as palavras, provavelmente e infelizmente, mal amanhadas e mal inter-ligadas, quiçá nem sequer interpretadas, formassem um embrulho – destaque para absorção, repetida e inevitável, de eternidade, sintetizada na principal frase da NOITE antes do DIA: “BOM FEVEREIRO!”.
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