sábado, 1 de setembro de 2007

Meu encantador senhor

Tantas e tantas vezes lhe tenho escrito, sem nunca lhe ter revelado o segredo do meu coração. Conversava consigo, via-o quase todos os dias, trocava impressões sobre livros, cinema, passeios e nunca me atrevia a dizer-lhe o que fosse acerca deste afecto que nasceu dentro de mim, desde a hora em que o vi pela primeira vez.
V. por certo adivinhou, nos mil nadas em que se revela o amor, o que eu há tanto tempo guardo para mim. Não o vai surpreender esta confissão, pois sou obrigada a fazê-la, porque percebo, enfim, que é hora de confessar. Amo-o e amo pela primeira vez!

Ahh você sempre soube?
Mas quis saber qual a impressão que lhe causa a minha pobre confissão, tão oca, mas tão sincera.
Gostaria que me dissesse o que pensa do que lhe digo, para que eu parta se tiver de partir, lute se for esse o caso, mais segura do meu próprio destino.
Apesar dos receios da resposta, e da ansiedade na recíproca, saiba... pretendo lutar e vencer quantos obstáculos se depararem no meu caminho, caso tenha a dita de ser atendida por si, ou para desesperar e viver num inferno, se o meu afecto não for correspondido, tal como desejo que o seja.
Que poder de sedução tem V. para me ter atordoado ao ponto de não ver outra imagem senão a sua, mesmo quando estou longe de si. Sabe? V. domina, maneja como quer os meus destinos, tem o dom diabólico que o fazem senhor de todo o meu ser. E, passa sereno, por ser altivo o seu dom, por entre os míseros mortais que todos somos.
Perdoe o modo ligeiro com que eu mascaro o meu sentir. Sou, por índole, humorista, e disfarço com bom humor tudo o que possa, de longe ou de perto, ter a marca do sofrimento que lhe causo, ter a marca da saudade que a distância me causa, a marca que carregamos como o sangue português que me corre nas veias.
V. não me conhece completamente, mas queira saber que quero que aumente esse conhecimento e que quero, também eu, dar-me, eu própria, a conhecer. Creia-me, creia na sinceridade da minha confissão, e dê tempo ao tempo para que o convença de que, realmente, sou honesta quando me entrego, e lhe mostro que desejo oferecer-lhe uma dedicação sem limites.
É inútil procurar camuflar e encontrar rodeios para lhe dizer que esse fluido misterioso em que meu coração se inebria é, sem dúvida, o prelúdio dum grande amor.
Tenho esperança, porque também esse sentimento me corre nas veias lusitanas, que V. possui uma alma feita para amar. Ora, não pode deixar de aceitar o amor tão espontâneo, tão verdadeiro que, sinceramente, ofereço apaixonada.
Certa que V. terá pena de mim, pena destas horas de agonia e de intranquilidade, e porque vai longa a carta, despeço-me. Saiba que lhe disse pouco do que me vai na alma inquieta, mas acredite na confissão sincera e tenha benevolência por esta exposição.
Sem mais, subscrevo-me com o ardor que a pena me causa entre os dedos, por saber que me exponho a si deliberadamente, mas muito sinceramente e agradecida,
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