A solidão tem tanto de perigosa como de sagrada. Estar só,
numa espécie de isolamento voluntário, decidido e conquistado, pode tornar-nos
vermes como também pode transformar-nos heróis. Acho que a solidão cria um misto
de verme e de herói. Reconhece-se o ser rastejante mas também o ser feito de uma
qualquer massa inquebrável. E orgulho! Muito mais do que medo! A desejar e a
berrar e a resistir e a fazer tantas e tantas vezes de conta, o orgulho nessa
massa substitui o medo. A solidão carrega o perigo da crueldade. Os humanos que
se alimentam de outros humanos, canibais e vampiros de ideias e de sentimentos,
para se fortalecerem. Os vermes! Um dia heróis! Mas quase sempre canibais! Canibais
quando sugam momentos de felicidade alheios ou mesmo imaginados para alimentar
a alma e o corpo carentes de toque. Vampiros, quando saboreiam sentimentos que não
lhes pertencem como se fossem seus, só para armazenarem defesas que lhes permitam
rastejar mais. E eis outra vez o orgulho! Acho que é o orgulho do verme que tem
um quê de herói, mas consciência plena de que, no fundo, lhe sabe melhor a força
e a certeza e a convicção e os dentes cerrados. Sabe-lhe melhor o pó da terra. Sabe-lhe
melhor a água turva. E, é assim, que a solidão se torna sagrada… Na força!
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