sábado, 10 de maio de 2008

Memória cumprida

Porque é que os meus passos me guiam e o pensamento me foge sempre?
Aquele compromisso estava adiado há muito tempo. E… Sim! Era já um compromisso que tinha de cumprir!
E por impulso… Quem pode recusar um impulso? Disseram-me um dia… Cheguei ou chegamos lá. E cumprimos. E desejamos! E sentimos! E respiramos!
O momento não pedia partilha. Essa ficaria adiada, outra vez. O momento pedia reflexão. E essa ficaria incompleta, naturalmente, embora mais nítida.
Os pés agarraram-se à areia como se tivessem medo de se soltar.
E os braços voltaram a cair sobre o corpo, deixando as mãos penduradas no vento.
E os gritos continuaram mudos e os murmúrios chegaram a ficar roucos.
“Não há nenhuma pedra que não conheça o teu sabor salgado”, pensei. E sim! Cumprindo-se o adiado e reflectindo lembrei-me da pergunta que me fizeram um dia: “Estás preparada para essa natureza que tanto amas?”. Lembro-me de ter respondido de coração cheio e sem sal: “Tenho a certeza!”.
Com os pés firmes na areia e com os braços a ganhar forças para arrancar o sabor salgado que as pedras conhecem tão bem e me ensinam, aos poucos, a aceitar, lembrei-me dessa natureza amada… E armada!
Como é que a descrevi? Parece que foi há tanto tempo… Como é que a descrevi?
“É perfeccionista, corajosa, insaciável e apaixonada”. Sim, era isso! Aquela natureza, que não temia, era isso. Aliás, seria apaixonada ou apaixonante? Pouco importa. Afinal eu estava preparada.
Depois, quando os pés saíram, ganharam vontade própria e o sol desistiu de secar aquele sabor salgado, os braços agarram as mãos e entregaram-se ao vento, numa corrida contra o sentido do impulso de sempre!

Já aqui
Já quente e já aconchegada
Já a cumprir a segunda fase do compromisso,
Já atrasada e já cansada como desejado…
É deixar a música entrar e reflectir em linhas:

Ser como o violino intocável pela majestosa condição de instrumento musical que é peça de arte… Ter o recorte da tela e ser tango… Ser um tango intimo que se abafa no peito enquanto procura explodir em suor…
És tu!

Sexta, 9 de Maio, 22h31
Em Lavra, com o sol já posto e os pés já quentes. Depois de um impulso e de uma reflexão num sítio que não pertence aos sítios nem aos homens… Pertence à Memória!

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