quarta-feira, 11 de julho de 2007

Era noite...


As luzes foram-se apagando uma a uma. Restavam duas, uma contagiante ainda que vista e imaginada de lado, outra vista ou imaginada através dos buraquinhos das persianas semi-fechadas.
Ainda assim sentia-se vida, até porque o sono, ou as insónias imaginadas, também são vida.
Algumas estrelas. Não se encontrava a brilhante, companheira de sempre, mas viam-se, contavam-se estrelas e o céu estava limpo. Confiança. O dia, o dia seguinte, teria bom tempo. A vida continua com bom tempo.
Arvores serenas, num espaço relvado sem utilidade. Sem a utilidade que deve ter um espaço com relva.
A natureza parada para que se pudesse contemplar, entre os buraquinhos da vida que se iam apagando um a um, que a natureza, essa humana, continuava dentro. Essa que não é pública, é tão íntima, provavelmente ou esperançadamente, tão verdadeira.
Pensar em luz lembra cidade. Lembra vida, e a cidade que se lembra, pela luz, tinha vida, tanta vida. Vida pública, vida íntima, vida partilhada, vida boa, vida!
De uma porta para outra, passou, atravessou o relvado inútil, indiferente, sem saber, por não saber, que estava a ser acompanhado. E acendeu-se outra luz, esta era do outro lado e era forte. Imaginada, parecia vida. Esperava-se que fosse aliás.
Alguns, os resistentes, ainda se ouviam em baixo, à esquina. Esses também desconheciam que alguém lhes seguia as vozes, dormente demais para poder, querer ouvir as conversas.
E as estrelas permaneciam. As arvores serenas. A cidade onde tinha sido deixada. A vida continuava. A contemplação resultava em serenidade.
Era noite, mas existia luz e existia vida.

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