sábado, 9 de junho de 2007

Ruinas citadinas /sentir cidades/ 2



Na Rua Anselmo Braancamp, perpendicular à Rua Monte do Tadeu, Porto, perto da Av. Fernão de Magalhães, lê-se: “Em Novembro é de Abril e mais que me lembro”, vêem-se estendais de roupa e janelas com cortinas de renda, umas escadinhas em ziguezague, casas empoleiradas umas nas outras, tendo o céu como infinito, pinturas, cor, traços, letras, vidas vivas, vidas mudas, vidas feitas de natureza morta, passam rolas que ali têm os seus ninhos, famílias, uma mãe histérica porque a filha nunca mais vem da escola, três rapazes de mochila às costas, ali estiveram os “loucos” das latas de spray, ali estavam velhinhos a ler o jornal à porta do café e a olhar de lado para a fotografa, ali estão sempre as mesmas almas feitas de sol ou de sombras conforme a felicidade bata à porta ou não, a câmara também lá deixou a sua notinha de presença: “Proibido deitar lixo ou entulho. Sujeito a coima de 200 a 800 euros”, mas só mesmo isso, a Rua Braancamp cala a boca dos que dizem que o Porto é cinzento, deixa tonto quem percorre as escadinhas de cimento a tender para a esquerda, como impõem as vidas mudas, e lembra que o céu é mesmo o infinito de todos, dos iguais e dos que são menos iguais que os outros todos.

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