sexta-feira, 25 de maio de 2007

Reflexões citadinas /sentir cidades/

Curioso perceber que aquilo que sempre negamos ou escondemos atrás de sonhos, raízes, amores ou lembranças tidas como maiores, se torna tão nítido e impossível de esconder.
Coisas simples como percorrer o Bolhão num fim de tarde em que já nada tem aquele aspecto que cativa o freguês, o impulso de percorrer o Bolhão ajuda a perceber, e “impulso” diz tudo, que somos, sou, podemos ser de vários sítios.
Só quem percorre o Bolhão pálido ao fim da tarde é o turista sedento de coisas típicas, que leva, como um troféu, a fotografia da tripeira de bata, socas e toco. Ou percorre o Bolhão, ao fim da tarde, já com o sol a querer fugir, um pseudo estudante de qualquer coisa que corta caminho no regresso a casa e vai ouvindo o pregão que fará parte dos seus apontamentos pseudo diferentes que falam de bairrismo, de povo, de história, de património, de léxico…
Eu hoje percorri o Bolhão, depois de percorrer outras tantas ruas da Baixa (que saiba-se está viva, muito viva) mas não sei em que grupo me devo incluir.
Tinha saudades da Baixa. Acho que percorri a Baixa porque há coisas que cansam, e absorver a torre da Câmara, a partir da estação da Trindade, num transbordo esporádico, não chega para quem já não nega o que sente e o que precisa em relação a esta cidade.
Foi um passeio simples e curto. Passeios que começam em impulsos não precisam de ser longos nem cheios de aventuras. Os impulsos que resultam em passeios também dispensam fotos do momento, postais ou souvenir’s.
Há coisas que só se sentem, porque nem sei porque escolhi aquela rota, podia, tinha, tenho sempre a Cordoaria, as Virtudes e a Ribeira, o Bairro Dona Inês, a cidade oferece-me tanto, mas senti o Bolhão e as ruinhas que estão Vivas à volta.
E hoje à noite, o passeio será outra vez simples, talvez longo, quem sabe só, provavelmente até ao fechar de um bar qualquer, ou de sempre.

Impõe-se simplicidade, assim como se impõe que se respire Baixa.
E há coisas que não se explicam, só se sentem, impulsos que só se cumprem.

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