sábado, 24 de fevereiro de 2007

Um dia quase perfeito

(Sexta-feira, 23 de Fev/07)
Quando a angústia é o melhor sentimento do dia, aquilo que nos faz sorrir e chorar ao mesmo tempo. Quando nos cansamos para não ter de pensar no tempo, e depois esse tempo passa num silêncio ensurdecedor, mesmo com todos os ritmos do mundo, mesmo com o corpo a pedir mais, a mente a pedir menos, o som a entrar-nos nos poros como se fosse o abraço de alguém. Mesmo nesses dias, noites, nas manhas de esperança, sono, raiva, angústia, relaxe…
Oh… Mesmo nesses dias…
Adoro sentir-me viva.
Adoro que me façam sentir viva.
Adoro chorar mas não gosto que me vejam. Faz-me bem chorar.
Fui ver o mar. Ver as ondas lá e cá torna o mais despreocupado no mais pensativo dos seres, mas eu já não queria deixar de pensar. Já não era angustia, era uma sensação de relaxamento que só quem gosta e sabe chorar compreende.
Vi-o revolto, eu estava serena.
Vi-o ir e vir, eu fico à espera.
Adoro a minha baixa, das minhas ruas, de as contemplar de olhos inchados, porque assim sei que as tenho lá sempre, o esforço mostra-me que estão (como eu) vivas. Adoro tomar chá no Guarany dos Aliados, ver as pessoas passar, ler o livro de sempre, sentir a música de sempre nos meus ouvidos e imaginar que não estou sozinha.
Aliás… saber que não estou sozinha.
Que paz é esta que só o choro concede?
Que suspiros são estes que me provam que (não) há tempo?
Não sai de casa. Não podia, tinha de aproveitar o silêncio que tinha dentro de mim e esquecer a música, às vezes preciso de esquecer a música.
Procurei a lua... Não havia lua... Às vezes não há lua, mas mesmo nessas noites, vejo sempre a lua.
Voltei para minha cama que continuava desfeita depois da angústia da manhã. Não a fiz, mas voltei a sentir-me viva, voltei a ver a lua e a sentir a música. Foi um sonho, mas senti.
Há dias que merecem um poema, mas só sei escrever (mal) prosa.

E... "a dependência é uma besta que dá cabo do desejo e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo".

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